quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A primeira semana de aula




Entro na sala de aula. Alguns olhares já conhecidos. Novos olhares: uns curiosos com a imagem daquele professor de cabelo comprido; outros com ar sobrecarregado do mais puro desdém. “Mais um chato nesse tédio de escola!”, é o que dizem. Àqueles curiosos, tiro meu chapéu. Para os desdenhosos meu trabalho será redobrado. Preciso conquistá-los, ou pelo menos trazê-los para mais próximo de mim se quiser que as aulas rendam algo.

Um aluno chama a atenção. Um boné de qualquer jeito na cabeça, a calça não faz parte do uniforme, um celular qualquer desses quaisquer mesmo com uma música alta e repetitiva eletrônica ou algo que o valha. Se estivesse em casa não estaria fazendo coisa alguma (conheço desde a infância, que parece não querer acabar...rs [que pecado pensar assim!...rsrsr]). Emprego, duas tentativas, duas demissões. Na escola, não fede nem cheira, como dizem os professores. Felizmente não usa drogas ilícitas (mas reclama a todo instante de tudo ao seu redor).

Esse é só um exemplo. Há também aquelas alunas que os meninos já classificaram de “piriguetes”. Há também aquelas que querem ser como as outras. Entre os meninos a maioria ainda nem sabe o porquê se estudar. Contudo, sabe que estudar a noite é um ótimo motivo para não continuar em casa. Seus sonhos são curtos: “Nesse começo a trabalhar, já tenho 16. Tem eleição, já voto, e o meu pai conhece o candidato que vai me arranjar serviço”. Lá no canto da sala um aluno reclama que odeio trabalhar de servente nesse sol. Que pena. Se soubesse quantos sóis seu professor concretou lajes e ainda vai concretar...

Mas eles sonham pequeno. Aos 18 já terão seu carro, que mais podem querer? Talvez vivessem bem contemplando os gladiadores romanos ou os cavaleiros medievais. Infelizmente ainda não descobriram todas as consequências que seus atos podem lhes inferir. E eu não consigo mensurar se são a maioria ou minoria.

De toda forma, algo precisa ser feito. A escola precisa se reinventar, os professores precisam se reinventar. Perder nossos alunos para todos esses modismos vazios e toda essa alienação comodista tecnológica é um risco muito alto para nosso presente e futuro.

O desafio é dantesco. Nossos concorrentes são desleais. Desistir desse caminho de pedras significa abrir Mao da própria condição de educador!

Professor Wagner Fonseca, 17/ 02/ 2012
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