quarta-feira, 18 de março de 2009

Inconsistência

Meu mundo parece ter sido roubado de mim, falta algo sob meus pés, falta algo em minha visão. Meus sonhos desvaneceram-se em fluidas gotas de esquecimento, os mesmos sonhos que embalaram minhas noites douradas de adolescência. E vem o tempo e a falta do mesmo para me provar o quão irrealizáveis eram meus propósitos...
Um mundo insano e desbotado se contrapõe a um mundo alegre e colorido e que tudo me oferece. Novas possibilidades emergem da própria natureza do amalgama de meus pensamentos pretéritos fundidos numa confusa massa de ocasiões oníricas em que ouso flutuar...
Deito meu corpo ao chão para sentir alguma energia perdida, espero por alguma lágrima que possa visitar minha face, mas ela não vem. Em vão, olho para as fotos antigas, para as fotos recentes, tentando encontrar algum sentido qualquer. Ouço velhas músicas que me fazem viajar, ouço novas músicas que me fazem desejar. Meus livros imploram meu olhar, mas os deixo em detrimento das formas digitais que hoje que oferecem um novo enigma a cada byte, a cada mega...
Não me encontro mais...
Não mais eu...
Sem eu...
Eu...
Eu estou sempre no mesmo ponto, um ponto negro numa planície horizontalmente imensa e branca. Perco-me em sua vastidão. A imensidão em branco sou eu, mas não consigo expor-lhes novos tons de cores novas e velhas, já desgastadas. Mergulho nesse branco, invólucro de maldade e sentimentos de raiva e tristeza.
Me permito um minuto de contemplação do passado, tao distante me parece, tao ignóbil, tao necessário e tao malvado comigo. E lá no fim vejo um rosto sorridente, mas que de mim se ri. Me aponta seu dedo com malevolência e me dirige injúrias e verdades amparadas por amargas mentiras. Eu vejo um arrependimento escorregar por seus lábios e seu sorriso desaparece em nuvens purpúreas de lágrimas envergonhadas que se dissolvem na superfície incolor...
Caminho no horizonte íntimo de mim mesmo e meus dedos tocam o espelho que reflete meu pesar, um espelho enigmático, um espelho que oferece respostas mal intencionadas e mal amadas, respostas cruéis, vis, mas respostas reais. O espelho sou eu. Eu o quebro, o faço em mil pedaços e tenho sob meus pés mil pedaços de mim, mil dedos apontando para mim, mil olhares, mil risos, mil pesares...
Tento me afastar, mas como afastar-se de si mesmo? Como embrenhar-se na imensidão opaca dos sonhos já falecidos? Como inserir numa mente descarregada a necessidade de sonhar?
Sonhos? Sonhar, com o quê? Nesse mundo intransigente, nesse mundo que te faz querer ser o que não se pode, um mundo insensato que te transforma em escravo dos desejos que não se precisa desejar...
Meu mundo parece apagar-se, como uma borracha sobre o desenho a lápis feito pela criança que tão somente almeja representar o que a pode fazer feliz num pedaço de papel qualquer...
Não eu, somente eu...
A imensidão me provoca, eu quero sonhar novamente...
A imensidão me provoca, eu vou enfrentá-la...

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