sábado, 5 de junho de 2010

Saudade rabugenta...

Sim, eu também estou envelhecido. Já não saio mais de casa. Minha vida é escola e casa. meu trabalho como professor é um verdadeiro paradoxo: não tenho mais tempo para mim, pois quando o tenho realmente, de nada tenho vontade. Ou minhas vontades não podem se concretizar...
Essa vida doida nos endoidece mesmo (perdão do trocadilho). Eu era mais feliz quando namorava com minha esposa, quando tínhamos amigos para nos receber. Será que não os tenho mais? Quando saíamos para algum baile em nada me incomodava ter que ouvir samba e pagode, pois meus amigos estavam ao meu lado. O que se ouve hoje? Funk? Não consigo ouvir aquilo, fere até minha alma.
A correria da vida diária nos faz parar nas horas vagas. De tanto corrermos, quando paramos, não sabemos o que fazer. Olhar velhas fotos... Que dor! Que infinita saudade...
Na tela da tevê as fotos nos fazem sorrir, mas será um sorriso verdadeiro? Antes, caprichávamso nas poses com medo de queimar o filme. Hoje, fazer pose é lugar-comum. Claro, todas as fotos irão parar no orkut e afins. Cada nova frase criada revela novas poses a serem feita. Se tornou banal ser fútil e nossos jovens nem percebem isso.
Não vou negar o quão bem me fez a internet, sério. Tenho acesso a muitas coisas que jamais teria há dez anos atrás. Só que naquela época eu ia a lojas escolher meu livro, meus cd's, minhas revistas. Na locadora eu conversava com outras pessoas e como era bom esperar o filme que era o sucesso do momento! Hoje compramos pela internet, assistimos pela internet. O mundo virtual diminuiu o mundo real, deixou-o tão pequeno que já não conseguimos nos enxergar mais nele. É bom reencontrar velhos amigos distantes de nós e receber o seu carinho. Essa é uma vantagem, todavia, as desvantagens conseguem ser maiores ainda. Acomodamos um livro inteiro num cd e ainda sobra espaço. Por Zeus!, um livro inteiro num pequeno disco...
Como disse antes, se não fosse essa vida corrida de professor é claro que eu teria mais tempo para aprender a mexer no computador em todas as suas funcionalidades. Acho que eu me daria bem num ramo da informática. Trabalharia a semana inteira em frente ao pc e nas horas vagas quem sabe eu realmente teria tempo vago. Tempo para familia, para os amigos, para as visitas sociais, tempo para exercitar os músculos, tempo para não ficar doente ou depressivo.
No final, isso pode ser apenas paranóia da minha cabeça. Porque eu deveria me preocupar tanto com meus alunos se eles não se preocupam comigo? Não se preocupam nem consigo mesmo. Mas eu me preocupo porque o futuro deles vai refletir diretamente no meu futuro, no futuro do meu filho e dos filhos dos meus amigos. Me preocupo por causa disso. Além de termos uma relação diária temos um futuro em comum. E, sinceramente, gostaria muito que eles tivessem pelo menos a metade da infância que tive, da liberdade adolescente que tive. Dentre todos meus alunos que já tive e ainda tenho alguns eu posso chamar de amigo. Não aquele amigo total que me acompanhou desde criança, mas mesmo assim é um amigo. Embora aqueles amigos de tempos remotos hoje sejam apenas um rosto alegre na tela do computador. Eu preferiria que eles me jogassem ovos na cabeça no dia do meu aniversário ao invés de receber um eletrônico e virtual "feliz aniversário".
É por isso que me dedico aos meus alunos. Em meus sete anos de sala de aula esse foi o único ano que me cantaram parabéns, espero que não seja o último, pois sei que foi sincero. Ainda lembro das quintas séries, quando as meninas me entregavam um envelope pobrezinho e feito a mão dizendo "Feliz dia dos professores". Os guardo comigo, assim como muitos trabalhos e lista de chamada. São como as fotos que tenho com meus amigos. Às vezes são como famílias e nem conseguimos ao certo distanciar o profissional do emocional. É errado, mas é humano. E sem querer formamos famílias, assim como formamos com nossos amigos. Porque a família é nosso porto seguro, mas se quisermos navegar só conseguiremos nos braços da amizade. E mesmo que naufrágios venham a ocorrer, nosso porto seguro está sempre pronto a nos acolher. É por isso que valorizo minha família e sempre que posso revejo meus primos, primas, tios e tias: com eles tenho um passado em comum que teima em ficar vivo!
Eu diria que isso é só uma crise, mas vejo outros amigos assim como eu. Uns em situação pior, outros vivendo as metamorfoses da vida sem pouco se importar com essa dor boba e às vezes rabugenta chamada saudade...

Professor Wagner Fonseca, 5 de junho de 2010...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nenhum comentário:

Postar um comentário