Geralmente uso o espaço do blog para publicar coisas
de utilidade pública. Ah, começar um texto com uma piada é muito bom...
A verdade é que sou um cara incomodado mesmo. “Cabeludo
revoltado”, diz minha professora. Pode ser. Eu me revolto mesmo, principalmente
com a mentalidade de gado, de rebanho que eu vejo diariamente na internet, nas
redes sociais. E, por isso mesmo, gosto de provocar essa mentalidade agindo da
mesma forma, postando as mesmas coisas que fazem essa mentalidade ovina se
arrepiar.
Uma notícia ruim se abateu sobre mim ontem. Perdi praticamente
metade de minhas aulas, não vou mais lecionar sociologia em uma das escolas que
estava. E o pior de tudo é que a culpa é de um desgovernador incompetente deste
lindo Estado que é Santa Catarina. Um Estado conservador, diga-se de passagem,
mas de encantamentos mil. Realizamos um movimento bonito contra esse desgoverno
imoral, ainda estamos lutando, porém, os professores, os mais prejudicados,
serão demitidos. Bem, os alunos também serão muito prejudicados, pois serão
entulhados nas salas de aula. Os alunos estão nas ruas brigando, os professores
se acomodaram. Não todos, é óbvio, mas uma grande maioria, principalmente aqueles
que mais perderão. É, mais uma luta, mais um desafio, mais uma guerra. Vamos abaixar
nossas cabeças e olhar para o chão que nos sustenta. Respirara fundo, estufar o
peito, suspirar, sorrir e guardar as mágoas para depois. Vamos levantar a cabeça
e continuar.
Aí, você enxerga nas redes sociais o ódio perpetrado
por aqueles que se sentem ameaçados. VAMOS REDUZIR A MAIORIDADE PENAL! É o
brado retumbante daqueles que querem salvar o país! Temos um Estado que não
investe em educação nem saúde, muito menos nas condições básicas da população e
agora querem jogar todo mundo num presídio. Vai melhorar pra caramba a
segurança do país! Ô se vai... E os verdadeiros ladrões? E nossos vereadores
analfabetos? Nossos deputados analfabetos? É tão fácil enxergar um problema e
pensar como a maioria está pensando. “Fodam-se os adolescentes e crianças! Se erraram
têm de ser punidos!” Dá nos nervos ouvir isto. A mídia porca do Brasil elege um
tema e o banaliza de forma tal que molda milhares de pensamentos sem que
ninguém realmente pense sobre. Pior que isso é ouvir nossos intelectuais
virtuais declamarem inúmeras linhas sobre o porquê se deve reduzir a maioridade
penal. A comparação com países ricos é feita imediatamente. Países com
realidades sócio-culturais e econômicas totalmente distintas da realidade
brasileira. Há exceções? Isso nem precisa se comentar. O discurso é básico: “é mais
punir do que educar”, embora até mesmo este discurso seja atacado pelos
intelectuais virtuais. Todavia, esquecem-se tais mentes que educação não é
somente aquela proposta por meus colegas professores que querem esquivar-se da
sua profissão. Educação vem de casa, mas quem educou os adultos que lá se
encontram? Nasceram do repolho e nunca foram à escola? São apenas seres
iletrados? Nunca tiveram uma aula sequer?
A educação é um conjunto de fatores que envolvem toda
a sociedade, não apenas a família. Quando falamos em educação devemos levar em
conta o aprendizado familiar, o aprendizado com os amigos da vizinhança, o
aprendizado na igreja, clubes, trabalho, todo o processo de socialização a que
estamos submetidos diariamente. E, principalmente, tudo o que nos é oferecido
em nosso cotidiano pelos meios de comunicação. Nossa sociedade é violenta
porque assim a fazemos, assim desenvolvemos nossos filmes, nossos valores
individualistas, nossos jogos de videogames e por aí se vai num infinito de
causas que levam à violência. Que educação almejamos então? Ou será que vamos
apenas ‘vigiar e punir’? É por causa disso que punir é mais fácil que educar. Pois
educar pressupõe uma tomada de consciência muito maior em direção a uma mudança
radical na forma de pensar a sociedade. Tornarmo-nos iguais em tudo não dá. Quiçá
sermos iguais perante as leis. Contudo, precisamos ao menos garantir nossa
liberdade, principalmente porque é com ela que aprendemos a evoluir como seres
melhores. Quando um indivíduo chega ao ponto de cometer um crime apenas o
punimos sem nos questionar as causas que o levaram ao proceder o ato. Talvez o
ser que age violentamente não possa ficar solto na sociedade e precise mesmo
ficar preso. Mas se não entendermos o que leva o ato criminoso, como iremos
educar as novas gerações para evitar que o mesmo se repita?
As rédeas sociais estão soltas, isso é fato. Precisamos
de um Estado forte que as amarre novamente, entretanto, de forma algum
necessitamos de um Estado centralizador ou autoritário. Precisamos nos reconstruir
enquanto sociedade, resgatar velhos valores ou adaptar novos. Ainda não somos
capazes de sobreviver e conviver pacificamente em sociedade sem ter um guia,
sem ter as leis que nos sustentam. Mas isso é algo me assusta, pois o que vejo
pelas redes sociais é um crescente sentimento de impotência da população,
principalmente dos intelectuais virtuais, e que a cada dia mais desejam que o
mundo volte a ser como era no passado: direitos humanos para humanos direitos. Talvez
a analogia não seja a mais correta, mas acredito que todos conseguem entender. As
pessoas “normais” dia após dia aumentam seu movimento contra aquilo que
consideram “anormal”: cotas, direitos aos pobres, direitos aos que antes não
tinham, ditadura dos menores, ditadura homossexual e assim se segue. Na verdade
há muito que se questionar sobre tantas transformações pelas quais a sociedade
vem passando ultimamente. Porém, ao invés de haver uma discussão saudável, o
que vejo é o império da opinião devidamente baseada em leituras e empiricamente
moldada contra tudo o que atente à propriedade privada, religião e bons
costumes. Qualquer palavra dita de uma forma um pouco diferenciada já o
caracteriza como comunista, subversor da ordem pré-estabelecida, ateu militante
ou defensor do direito de dar a b.... (bem não precisamos chegar a tal ponto,
embora eles assim o façam com quem pensa contrário ao seu modo). Logo em
seguida desejam que você se afunde num mar de fezes o culpando por ser a favor
de tudo o que faz o mundo atual ser o balde de merda que é.
Por fim, ou você se torna o rebanho facilmente
induzido acéfalo que apenas reproduz sem questionar tudo aquilo que é derramado
nas redes sociais e meios de comunicação, ou você se converte em gado bovino
devidamente manipulado por intelectuais virtuais que sabem mais que todos os
pensadores e escritores da face da terra.
Eu prefiro, acima de tudo, um banho de rio. Mas estes
preferem mijar dentro dele quando você lá está.
Nenhum comentário:
Postar um comentário