terça-feira, 7 de abril de 2015

Ilhas verdes entre a lavoura



De cima do morro observam-se as diferentes gradações do verde que se estendem pela paisagem. Há uma memória coletiva entre os 'colonos' e também entre os moradores da cidade que associa a roça com mato. Há, contudo, realmente, pouco 'mato' na roça.

Nosso primeiro desafio é definir o que se entende por mato. O mato pode ser a erva daninha que cresce no quintal de casa ou no jardim. Pode ser também a 'capoeira' espalhada às margens das rodovias municipais e outras. O morador urbano chama de mato a roça querendo dizer que lá só encontra-se mato e mais mato (como se houvesse muita floresta lá). Lembro-me de uma conversa entre meu pai, minha mãe e eu sobre aquele pouco 'mato' no meio do arroz. Me pai e eu concordamos tristemente sobre aquela situação: como o 'mato' se sufocava entre a lavoura. Minha mãe, por outro lado, enfatizou o fato de os colonos deixarem aquele mato à toa. "Porque aquele mato lá? Porque não derrubam pra plantar?"

A foto em anexo foi feita por mim, sexta-feira, 03 de abril, de cima do Morro Comprido, na comunidade homônima, no município de Forquilhinha, Sul catarinense. Quando estamos lá em cima temos uma visão do que nós temos hoje: pequenas ilhas de verde em meio às lavouras. Estamos sufocando o pouco que nos resta da mata nativa original. As consequências já sentimos.

Muitos olharão apenas pelo lado do agricultor, da economia, da quantidade bocas para alimentar, etc, etc. Sim, eu sei, você sabe, todos nós sabemos o quão importante é a produção de alimentos para a humanidade. Todos sabem o quanto esta evolução foi importante para nós chegarmos até aqui. Todavia, não é uma imagem interessante por si só? Uma "ilha verde" sufocada com suas raízes na terra entre o verde também da lavoura?

Produzir mais e crescer sempre, eis a nossa meta diária. Mas será que lembramos que temos limites a obedecer? O que a Natureza nos reserva ainda? Olhem no Google Earth e verão mais claramente como temos pouca reserva de mata nativa ou secundária, pouco importa. Há, é óbvio, inúmeras implicações socioeconômicas imbricadas na análise desta imagem, afinal, qual seria a medida correta a se tomar quando observamos tal situação?

A agricultura se realiza por meio da destruição da natureza, é assim que temos feito a milhares de anos. Podemos cultivar a terra de forma menos agressiva? E quem se interessa por isso? E qual seria o ganho real em dinheiro para quem ousar? Porque tudo gira em torno disso não?


Se não preservarmos o pouco de mato, "capoeira", o pouco de mata que temos, o que teremos a preservar no futuro serão apenas recordações...
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