Caminho por vielas estreitas e as pessoas cumprimentam-se
ora cabisbaixas, ora renitentes, por vezes com algum sorriso de reencontro
entre lágrimas de saudades e sentimentos diversos que se misturam. Eu continuo
meu caminho sob o dia lamurioso que até o Sol resolveu folgar para refletir.
As construções são baixas e seus condôminos descansam no
sono eterno. Quase sempre há paz e quietude pelos arredores e, salvo a chegada
de novos moradores, apenas uma vez por ano o murmurinho humano aumenta. Estou aqui
por todos os dias lendo e relendo mensagens de adeus e colhendo lembranças
alheias. É estranho conhecer os seres humanos, às vezes tão alegres, às vezes
tão deprimidos. Culpam-se de tudo, culpam a todos, culpam a mim. Sou somente a
mensagem e sua entrega, apenas o caminho.
Rostos jovens, vivos, param em frente às lápides. Leituras
com olhos, leituras com voz baixa, suspiros. Voltam seus passos e rumam embora
após deixarei suas flores, suas velas.
Gosto das flores, colorem o lugar. Gosto das velas e seu
perfume. Gostos da gente velha, eita! Choram, se emocionam, emocionam aos
outros, fazem todos chorar e também fazer rir. Me admiro com essa capacidade. Ali,
por onde passo meus dias, bem ali onde a certeza contumaz se petrifica. É ali
onde se reencontram tios e primos e sobrinhos e amigos de longa data. Todos vivos,
corados, salientes e saudáveis, riem e choram e relembram.
Gosto de ver essa mistura de choro e lágrimas. Algo no ser
humano me afeiçoa, me compraz e fico triste quando esse agito calmo acaba no
fim do dia. Resta-me esperar por novos, porém, isso não me felicita. Sua chegada
sempre é carregada de mais dor, piedade, tristeza e remorso.
Porém, uma vez no ano eu posso vivenciar essa mistura da
dor, da perda, do arrependimento, da vitória da alegria que é o reencontro. Esse
ser humano, que forças incríveis o movem?
Finados, 02 de novembro de 2015
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