E vai rolar a festa, dizem, da democracia, o que é difícil
saber. Certo é que festa haverá. Embora saibamos que motivo não há. Afinal,
porque comemorar a simples troca de peças no jogo que não permite o povo jogar,
quiçá ganhar?
Suspiro...
Bem, a festa haverá, com toda certeza, faz parte do
habitus brasileiro festejar sua própria tristeza, sua miserável desgraça. Ao fim,
todos sabem, o tabuleiro continuará incólume e as peças continuarão a jogar. Engana-se,
contudo, que o rei e a rainha mandam alguma coisa. Os verdadeiros mandantes
articulam as peças, as regras, o tabuleiro e entre si decidem como funcionará o
campeonato, sempre renovado.
No fim de cada
disputa uma festa maior e as peças já não conseguem mais enxergar com seus
olhos de marionetes.
Suspiro... E festa haverá...
Bandeiras empunhadas, balões faceiros, patinhos
fofinhos, folclóricos seres listrados e convicções à flor da pele. Haverá lágrimas
nos cidadãos de bem e capas de revistas mirando o futuro da nação! Um otimismo
comum brilhará nos corações mais ingênuos e suas prestações serão pagas com
mais alívio. Afinal, o monstro maior foi afastado, agora lutaremos contra
outros, dirão alguns editoriais bem intencionados...
Mudará o jogo, mudarão as regras e as peças, mas não mudarão
os competidores, os donos das rédeas.
Alguns dirão: “Decepamos a cabeça da cobra!” É, porém,
não se trata de uma pobre sucuri. A cobra é mais antiga e se apoia em mitos
muito bem arquitetados para garantir um mundo que não seja transformado. É uma
hidra que se enrosca por toda a sociedade e, no lugar da cabeça decepada,
outras cabeças surgirão para nos amedrontar. Bem, o mais certo é tratar como um
ninho de hidras e infinitas cabeças...
De toda forma, o mais certo é afirmar: a festa haverá.
Pegue sua coxinha e sua coca, pegue mais outra e guarde no bolso e cuido seu
bolso para não sujar. Envolva a coxinha no branco guardanapo, pois o bolos é
lugar puro, jamais antro de sacrilégios lipidinosos!
De posse de seu estomago bem alimentado, pegue seu
celular de última geração e faça aquela selfie que será recordada daqui um ano.
A festa haverá, essa é a certeza, só não sabemos em
qual salão será.
A festa haverá, essa é a certeza, mesmo que não
saibamos quem ficará bailando mais tempo.
Humm... É só imaginar: você não comanda o jogo, mas
insiste em comemorar...