segunda-feira, 30 de maio de 2011

Educação, greve, esperança... meu desabafo


Ainda lembro do dia 11 de maio quando aquela multidão se reuniu em Florianópolis. Questionei meus alunos qual era a capital do nosso Estado e, o que não é novidade, alguns não sabiam que era Floripa. Pior, primeiro ano do Ensino Médio. Por aí já se pode entender como está nossa educação, aquela mesma que o governo fala no comercial do IDEB. Quando falamos que o Estado de Santa Catarina é um dos mais ricos do Brasil, os alunos questionam porque nossas escolas são tão ruins. Ainda lembro daquele 11 de maio...

Havia no ar um quê de magia, como se todos ali presentes pensassem: “Ei, na certa o governo vai cumprir a lei, porque os outros Estados já estão a cumprir.” Nos mesmos olhares e feições pairava a certeza de que seríamos atendidos, afinal, estávamos lá por causa de uma lei federal! A mesma que ficou travada na justiça por dois longos anos! Por isso éramos tantos: estávamos cansados de esperar. Quando interrogado por meus alunos se eu aderiria à greve, era taxativo: “Estou trabalhando desde o dia primeiro de fevereiro, quarenta aulas por semana, e nem sei o quanto é meu salário, pois ainda não recebi corretamente.”

E lá estava eu rumo a capital do Estado...

Os olhares...

As vontades...

A esperança se espalhava no ar... Mas ela virou revolta! Indignação! Frustração!

A greve estava montada e não havia como escapar, era necessário lutar para garantir que uma lei fosse cumprida. A esperança começou a se dissipar no ar quando policiais tentavam impedir a marcha dos professores, os mesmo policiais que nos criticavam enquanto ignorantes transeuntes debochavam de meus colegas: “Se não estão contentes com a situação de vocês, porque não trocam de profissão!?” Talvez seja por ainda haver ignorantes assim que continuamos a lutar!

Ao voltar para as escolas que leciono expliquei aos meus alunos que seria preciso a greve ter uma adesão muito grande, para que fosse rápida, pois o governo tem a obrigação de atender os nossos pedidos! Para nossa grande surpresa, a greve começa forte, como há muito não se via! Isso era até esperado, pois o governo simplesmente ignorou a capacidade dos nossos mestres e nenhum de nós prefere a greve ao trabalho, a não ser os incompetentes, mas esses existem em qualquer profissão.

E o governo nos acenou uma proposta, quer dizer, uma provocação, e foi até a televisão numa tentativa de nos desmobilizar, de nos dissuadir e pôr o povo contra os professores. Foi um tiro no pé. A greve que já passava dos 80% de adesão, passou para mais de 90%, o número de professores revoltados com um governo que pouco se importa com a educação.

Em nossas manifestações percebo que muitos professores e professoras são até mais novos que eu (e eu sou novo ainda, trinta anos completos em maio desse ano) e por isso sua luta é mais importante. Ao nosso lado professoras e professores que já conseguem vislumbrar uma aposentadoria. Todos em conjunto brigando pelo próprio futuro.

Até hoje, 30 de maio, eu tinha esperança, mas ela começa a desmoronar drasticamente. Nosso governador não mostra sinal algum de se solidarizar com nossa situação, limitando-se a repetir o que já nos disseram seus papagaios de pirata: “O governo não tem dinheiro para a educação!” Então, há dinheiro para que? Para os guarda-roupas que se transformaram as secretarias regionais, pois são verdadeiros cabides! Dinheiro para deputado inepto? Aposentado?

No orkut e msn os alunos aparecem a todo instante perguntando quando a greve vai acabar e me enraivece dizer-lhes que não sei.

Mas nosso governo é muito inteligente, pretendem vencer os professores pelo cansaço, colocando o povo contra nós, a começar pelos alunos que não querem estudar aos sábados para pagar os dias parados. Aos alunos, quero lhes dizer que fiz minha pós-graduação desde setembro de 2007 até junho de 2009 aos sábados. Quarenta aulas semanais, meu ritmo de trabalho (forçado), e mais dez horas de aula qause todo sábado...

É muito? Em novembro de 2009 iniciei outra faculdade. Horário: todo sábado (T-O-D-O-S-Á-B-A-D-O), manhã e tarde. É muito? Então tá, tda sexta-feira, tarde e noite. E vai até dezembro de 2013. E posso reclamar? Nem devo, pois o governo está me pagando para estudar justamente para que eu seja um professor mais qualificado e possa oferecer o melhor para meus alunos. Ah, e meu salário não vai aumentar por causa disso.

Alguns alunos começam a reclamar dos dias parados em casa. Oras, quando em sala vivem a reclamar da escola?! E quantos dias todo início de ano faltam professores na escola por pura incompetência do sistema educacional catarinense? E porque isso acontece? Por que  importante é que o aluno esteja na escola, não precisa estar aprendendo.

Bem, eu já aprendi: vou me esforçar para conclui essa minha segunda graduação, fazer um mestrado e tentar lecionar em alguma faculdade ou quem sabe ir para a rede privada de educação. Infelizmente terei que abandonar aqueles a quem jurei dedicar os meus conhecimentos, aqueles filhos e filhas da classe operária, meus amigos, vizinhos, conhecidos.

Hoje começo a ter vergonha de ser catarinense. Nossos governantes, seus partidos, não querem o melhor para Santa Catarina. Aqui as pessoas não estão em primeiro lugar.

É provavel que essa greve comece a perder sua força, os professores se entregarão porque o governo vai nos cansar e cada vez mais colocar o povo contra nós. Voltaremos derrotados para as salas de aula, mais derrotados do que nunca. Nossas aulas piorarão e, se hoje o número dos que querem ser professor tem decaido vertiginosamente, cairá mais ainda.

As salas de aula estarão cada dia mais próximas daquilo que não deveriam ser. Professores acuados, retidos, amedrontados, sem ânimo. Os bons profissionais descartarão a carreira do magistério. Sobrarão aqueles que não tem mais para onde fugir, mas também não tem mais forças para lutar. E quando a situação estiver realmente caótica, o Estado dará o golpe final: privatizar a rede pública de ensino!

Quem sabe assim as coisas funcionem e o reino da meritocracia ditará a vida de todos. Viverão apenas os melhores! "Melhores", em grego, 'aristoi', o contrário da democracia, do exercício da liberdade, da felicidade, da responsabilidade.

Infelizmente, nosso governo decreta-se a si mesmo inimigo da educação. É uma pena que seja muito caro educar as crianças e adolescentes. Eu sempre pensei que fosse mais caro construir presídios. Na verdade, pensemos bem... Deve ser muito difícil para quem é rico ficar sempre preocupado que pode ser roubado, sequestrado, assassinado, estuprado. Por que é isso que acontece por não haver igualdade social, não haver educação de qualidade.

E de que adianta oferecer educação quando video-games violentos são mais interessantes? Futilidades da internet são interessantes? Novelas, seriados idiotas, modinhas musicais, filmes e livros vazios, sexismos e erotismos exorbitantes. Tudo que  televisão, rádio, internet faz é transformar nossas crianças e jovens em imbecis sem personalidade. De que adianta mesmo investir em educação?

É preciso um Estado forte, centralizado, autoritário para mandar todos os criminosos para cadeia, culpá-los mesmo que inocentes e então construíremos nossos condomínios cercados com muros altos e grades e cercas elétricas para garantir nossa segurança dos pobres e analfabetos, os mesmo que construíram nossas casas!!!!

Eu gostaria de escrever mais. Me nego. E mesmo sem querer vislumbro o fim da esperança. De todos aqueles olhares e feições do dia 11 de maio. Ainda vou ficar com os olhares e gritos de revolta.

Cheguei a pensar que seria forte para lutar contra aqueles que querem destruir o amanhã, mas eles são mais ardilosos. É por isso que as pessoas pegam em armas e fazem a revolução. É por isso que indivíduos solitários tiram a vida cruelmente de tantos imbecis que acham que suas gravatas e ternos lhes garantem alguma autoridade. Porque os destruidores do amanhã são fortes, são rastejantes, e tem força para destruir o futuro. Porque o passado lhes pertence, o conhecimento lhes pertence, o mesmo conhecimento que negam aos jovens que podem criar um verdadeiro futuro melhor.

E assim esvazia-se mais uma vez o arcabouço teórico de toda profundidade dos nossos discursos inflamados de coragem e ousadia pelo futuro.

Somos mestres, professores, não somos homens-bombas.

Somos professores: não somos mais guerreiros, somos as vítimas. Caçados pelo povo, devorados pelo governo.

Me desculpe meus colegas e amigos de profissão. Mas não há como não se indignar com um governo tão espúrio. Há mais de 30 anos nosso Estado é governado por esse partidos que se perpetuam no poder e pouco se importam com nossa educação.

Ignorância é meta a ser atingida.
Violência é diploma de graduação.

Nadamos muito até aqui, mas nosso paraíso tropical já foi comprado por particulares...

Professor Wagner Fonseca, 30 de maio de 2011... envergonhado de ser catarinense com esses governantes tão infelizes...

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3 comentários:

  1. É OSSO MESMO MAN. E O PIOR É QUE AQUI EU TB TOU CAMINHANDO PRA ISSO. MAS QUANDO EU FOR PROFESSOR DO ESTADO, VAMOS VOLTAR A QUEIMAR ÔNIBUS AQUI.

    TEM UM SELO PARA VOCÊ LÁ NO MEU BLOG. VAI LÁ BUSCAR RÁPIDO, POIS EU VOU EXCLUIR A POSTAGEM DO SELO EM SETE DIAS. DIA 11/06/2011 O SELO NÃO VAI ESTAR MAIS LÁ. CORRA!

    http://www.thebigdogtales.blogspot.com

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  2. Prof Wagner infelizmente resta-nos somente a indignação, mas temos que lembrar que é sobre ela que construiremos os alicerces do futuro.

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  3. Eu tô indignado, eu vô me estressá, mas na próxima eleição eu vô fazê uma campanha ferrada contra esses FDP.

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