Em 2013, por volta do mês de maio, discutia com alguns
amigos pelo facebook o meu medo que
crescia em relação à direção que nossa sociedade estava tomando. À época ainda
participava ativamente de uma comunidade no extinto orkut onde debatíamos coisas análogas. Em menos de 15 dias vimos as
inúmeras manifestações públicas varrerem o país e a mídia criminalizando cada
manifestação genuína.
O tempo passou, veio a copa e veio a vaia...
Passou mais um tempo e vieram as eleições e o resultado e
toda a agitação política. Amizades foram postas em pé de guerra em nome da
política, um grave erro. O ser humano é um animal político, como já dizia
Aristóteles há séculos, o que nos leva a entender que cada um de nós atua
politicamente em sociedade. Isto se dá pelo fato de mantermos relações sociais
e de poder constantemente. Neste exato momento escrevo este texto justamente
pelo poder que tenho: viver numa sociedade que é livre para pensar. Ainda...
No ano de 2013 as manifestações passaram de violentas para
democráticas em questão de instantes na mídia. Todos os arruaceiros foram
culpados e o povo pôde finalmente sair às ruas pedindo tudo e quase nada ao
mesmo tempo. Lembro-me de ler na revista veja que o padrão dos manifestantes
era de classe média média, tendendo levemente à alta e baixa. Ao conversar com
um amigo, ex-aluno, que participou de uma grande manifestação em Criciúma, o
mesmo me contava a decepção que sentia em estar lá: “Meus colegas de trabalho não quiseram vir. Disseram que não era lugar
para trabalhador...” Conversamos muito sobre e questionei quantos como ele
havia visto por lá. Outra decepção. Assim são as coisas, assim é a sociedade. E
não posso generalizar por um único evento.
O que me deixava interessado pelas manifestações da época
eram justamente as falas: “Não é um
movimento político!”. Como não? E como proibir a participação de partidos
políticos? Estratégia interessante, afinal se dizia naquele momento: “Ei, partidos políticos, não confiamos em
vocês! Não venham levantar suas bandeiras neste espaço do povo!” Passado
tudo isso, nos vemos nas eleições de 2014 e muitos daqueles contrários à
participação política dos partidos nos movimentos sociais do ano anterior
depositaram suas esperanças e frustrações em milhares de representantes de
partidos políticos nas urnas. Seria uma contradição? Podemos pensar sobre. O
fato é que, passado as eleições, as amizades continuaram a serem desfeitas
durante outubro e novembro do ano em questão. Comentários ácidos nas redes
diziam: “faço parte dos tanto por cento
de brasileiros com orgulho...”, ou algo parecido. Resumindo, segundo os
eleitores de Dilma Roussef, 49% dos eleitores são elitistas e estão desgostosos
com as políticas sociais implantadas na Era Lula em prol do povo mais carente.
Logo, eram pessoas ruins (vou usar este termo na falta de outro). Por outro
lado, vários dos 49% diziam palavras parecidas: “51% dos brasileiros é burro, analfabeto, preguiçoso e acha que o Brasil
vai bem”. Devo ter errado, mas li coisas assim. Estes 49% ainda estendiam
sua raiva (seria isso?) a outra porcentagem, eleitores que votaram nulo, em
branco ou os que se absteram. Esses, segundo aqueles, são os mais perniciosos,
aqueles que poderiam ter decidido, mas não quiseram participar, os covardes
(como li em alguns ‘insultos’, na falta de palavra melhor).
Mastiguei cada coisa que li na época, cheguei a pensar em
excluir pessoas da minha lista de contatos, mas não o fiz. Vivemos numa
democracia liberal representativa, a qual me permite pensar como penso e falar
como falo. Permite-me um pouco mais de liberdade, liberdade esta que jamais
existirá num regime autocrático, num regime absolutista ou numa ditadura
militar (ou outra ditadura, seja de esquerda ou de direita). Decidi não
comentar e apenas viver. Porém, 2013 não morreu, ele continuou até 2015.
Hoje ainda vemos pessoas, algumas esclarecidas, e isso é
importante, pois cada um de nós que possui um mínimo de discernimento sabe
exatamente onde nossos atos podem nos levar. Nem de longe desejo um regime
político que poderá cercear minha liberdade ou de meus compatriotas, sejam eles
defensores das mesmas ideologias que movem minha vida ou não! Todavia, não
posso também me calar ante as atrocidades sociais orientadas pela falta de
conhecimento da história, da política ou do próprio pensar humano. É este mesmo
motivo que me leva muitas vezes a refletir sobre cada erro que sai de minha
boca ou de meus atos. Refletir e se desculpar quando for preciso. Refletir e
discutir quando for preciso. Refletir e agir quando for preciso. Contudo, nada
disso muda o fato de que nossa vida em coletividade é tão ou mais importante
que qualquer mera opinião forjada no calor das emoções (estas mesmas que afetam
meu pensar neste instante).
Se tenho certeza de meus atos? Claro que sim, os repenso a
cada instante. Sei que a mudança começa em mim e sei também que não devo
esperar por mim só apenas. Pois sou passível de erro, de falha, de dúvidas. Por
isso volto meus olhos à HISTÓRIA sempre e sempre. Os erros do passado estão
sempre batendo em nossas caras. Enquanto forem eles, ainda haverá esperança.
Quando forem cassetetes, bem, será que teremos tempo de encontrar os erros para
aprender?
15 de março de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário