sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O que pensar quando não se está pensando



Em sala de aula me pego voando perdido entre os muitos bons momentos perdidos. Eu estou ali, meu corpo paira sobre algum caderno descaprichosamente colocado de lado. Há um professor na sala que fala, e fala, e fala. A turma toda fala junto e não sei dizer se alguém se entende em meio a tudo isso.

Eu faço minha parte, quer dizer, não incomodo e nem quero. Estou de saco cheio de cada dia em sala de aula, porém, nem sei dizer se é isso realmente. Cansaço? Talvez, mas me sinto cansado todo dia e nem por isso deixo de trabalhar ou vir para a escola. Tédio? Quem sabe, mas gosto disso aqui, desse barulho. Às vezes penso que sou mais inteligente que o próprio professor. Então ele me olha, me questiona, mas nada digo, nem ligo, apenas retribuo mascando um resmungo de palavra qualquer. Ficamos assim, ele na dele, eu na minha, ninguém na do outro. Aliás, nessa sala ou alguém está “na” do outro ou ninguém está em lugar algum.

No fundo de tudo isso eu vejo vários problemas. Não quero ficar no mesmo emprego chato e sei bem que sem estudar não vou conseguir coisa melhor. Ao mesmo tempo fico bravo com tudo isso, porque também não quero ter um emprego daqueles de gente engravatada. Eu quero apenas trabalhar sem me incomodar muito e sem incomodar aos outros. Por isso sinto pena do professor, de seus filhos que quase não vê. A atenção da outra professora, coitadinha, tão estudada, tão cheia de modos, tão comprometida e tão desesperada com meus colegas que pouco lhe dão atenção. A desculpa de todos é a mesma: “Tô cansado!”

Odeio cada um deles por causa disso um monte de vezes, depois me perdoo e não odeio mais ninguém. A “prof” está cansada também e é uma só ‘contra’ trinta.

Perdido em mais um momento de pura introspecção sou atacado pelo professor: “E pra ti meu rapaz, o que é o pensamento?” Pego de surpresa apenas o encaro e ele sabe que nada vou dizer. Na outra fila alguém diz que eu nem estou pensando então não posso falar sobre o pensamento. Viajo outra vez sozinho dentro de mim na aula de filosofia. Se não estou pensando, o que estou fazendo? Reflito profundamente em meio à bagunça: o que estudar quando não se está estudando?


Prof. Wagner Fonseca – 25/08/15 
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