Em sala de aula me pego voando perdido entre os muitos
bons momentos perdidos. Eu estou ali, meu corpo paira sobre algum caderno
descaprichosamente colocado de lado. Há um professor na sala que fala, e fala,
e fala. A turma toda fala junto e não sei dizer se alguém se entende em meio a tudo
isso.
Eu faço minha parte, quer dizer, não incomodo e nem quero.
Estou de saco cheio de cada dia em sala de aula, porém, nem sei dizer se é isso
realmente. Cansaço? Talvez, mas me sinto cansado todo dia e nem por isso deixo
de trabalhar ou vir para a escola. Tédio? Quem sabe, mas gosto disso aqui,
desse barulho. Às vezes penso que sou mais inteligente que o próprio professor.
Então ele me olha, me questiona, mas nada digo, nem ligo, apenas retribuo
mascando um resmungo de palavra qualquer. Ficamos assim, ele na dele, eu na
minha, ninguém na do outro. Aliás, nessa sala ou alguém está “na” do outro ou
ninguém está em lugar algum.
No fundo de tudo isso eu vejo vários problemas. Não quero
ficar no mesmo emprego chato e sei bem que sem estudar não vou conseguir coisa
melhor. Ao mesmo tempo fico bravo com tudo isso, porque também não quero ter um
emprego daqueles de gente engravatada. Eu quero apenas trabalhar sem me
incomodar muito e sem incomodar aos outros. Por isso sinto pena do professor,
de seus filhos que quase não vê. A atenção da outra professora, coitadinha, tão
estudada, tão cheia de modos, tão comprometida e tão desesperada com meus
colegas que pouco lhe dão atenção. A desculpa de todos é a mesma: “Tô cansado!”
Odeio cada um deles por causa disso um monte de vezes,
depois me perdoo e não odeio mais ninguém. A “prof” está cansada também e é uma
só ‘contra’ trinta.
Perdido em mais um momento de pura introspecção sou
atacado pelo professor: “E pra ti meu rapaz, o que é o pensamento?” Pego de
surpresa apenas o encaro e ele sabe que nada vou dizer. Na outra fila alguém
diz que eu nem estou pensando então não posso falar sobre o pensamento. Viajo
outra vez sozinho dentro de mim na aula de filosofia. Se não estou pensando, o
que estou fazendo? Reflito profundamente em meio à bagunça: o que estudar
quando não se está estudando?
Prof. Wagner Fonseca – 25/08/15
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