O hoje está muito diferente, muito distante
do ontem que vivi. No ontem as pessoas se cumprimentavam, as pessoas
visitavam-se entre si e compartilhavam vida entre si. Também dividiam feridas
abertas e costuravam as mazelas que abriam.
Não, não quero apena culpar a atualidade,
porém eu sinto seu peso e vejo pessoas que também o sentem.
Tirar o telefone do gancho e ligar para seu
amigo onze horas da noite e ficarem uma hora conversando sobre as mesmas coisas
que sempre conversaram. Aliás, nunca precisou mudar o assunto, não precisava
tanta versatilidade intelectual. Bastava assistir algum filme alugado na
locadora pra botar rodar no videocassete e lá vinham inúmeras teorias sobre
Matrix...
Ou virar a noite jogando canastra, bebendo
cerveja que não fosse cara, afinal, eu sempre estive em crise e isso não é de
hoje. Nunca fui rico e nem pretendo. Rico materialmente falando. Acho que a
pobreza... Não, não pobreza, humildade talvez, ou melhor, a simplicidade de
ser, a vida longe das grandes cidades, acho que tudo isso nos fazia melhores. O
pouco que tínhamos era o suficiente para tanto tempo!
Quando criança provava iogurte uma vez por mês
e hoje vou ao supermercado e pouco me importo se está lá na prateleira ou não.
Não, não é porque cresci, pois continuo sendo fanático por iogurte e os sabores
só evoluíram!
Jogar bola ou andar de bicicleta sem rumo era
o que havia, principalmente no verão, uma vez que praia não era nossa primeira
opção. Na verdade praia era significado de festa e festa era algo que
contávamos nos dedos! O que alegrava mesmo eram as festas juninas ou os bailes
que íamos no centro de nossa diminuta cidade. Muitos daqueles que desfilavam
com suas roupas caras hoje são pais e mães um tanto infelizes com o mundo de festas
de seus filhos. Outros se adaptaram. Seria mais sincero dizer que a maioria se
adaptou aos novos tempos e outros ainda são como eu, ouvindo as músicas
antigas, por exemplo.
O hoje é uma panaceia de sentidos e
sentimentos. Tudo misturado, perto e distante ao mesmo tempo. O prazer de
caprichar na pose da fotografia não é mais o mesmo, porque naquela época levaria
tempo até ser revelada e a torcida para ficar uma boa foto era grande! No hoje
as pessoas viajam e o prazer maior parece ser fazer a fotografia para postar
nas redes sociais. E quem consegue fugir disso que revele a primeira foto!
No hoje seus amigos estão no facebook, no
whatsapp e ainda assim estão distantes de nós, uns dos outros. O incrível mundo
virtual não é tão grandioso como pensamos, a não ser pelo fato de distanciar
infinitamente as pessoas. Quem consegue manter seus amigos por dois, três ou
quatro anos seguidos é um herói. Vejo meus alunos e alunas e como muitos ‘trocam’
suas amizades de tempos em tempos. Não deve ser amizade, na verdade. Eu continuo com meus
amigos de infância, de adolescência, das "baladas" e agrego novos amigos. Obviamente
alguns se vão e outros são apenas colegas que manterão contato regular por um
tempo apenas.
Já dizia o comercial de banco nos anos 80, ‘o
tempo passa, o tempo voa’, e no mundo corrido que temos, o tempo voa muito mais
rápido.
Não deixe que trabalho e sonhos de acúmulo te
distancie dos teus amigos e familiares.
Responda aos seus amigos as mensagens que eles
te deixam e não carregue tanto rancor. Há pessoas boas e ruins e sempre haverá que
os ame e cada um de nós jamais irá agradar a todos. Ser bom é algo difícil,
ouvir calado, não julgar, tentar entender as razões alheias, são todas coisas
complicadas, mas necessárias. Às vezes precisamos respirar fundo, suspirar profundamente
e simplesmente aceitar. Outras vezes precisamos reagir, resistir e mesmo deixar
o tempo agir sobre nossas faltas e as faltas dos outros. Inevitavelmente erraremos
e mesmo sem querer causaremos mágoas.
Talvez o melhor de tudo seja desligar o
computador, desconectar a internet, deixar o celular de lado e ir até o seu
amigo, visitar a sua família e não apenas esperar pelo dia da despedida final,
pois lá as lágrimas estarão nos acompanhando e elas devem ser leves. Lágrimas pesadas
surgem de dois fatores: dos nossos erros e de nossa distância. Cada fator dói
de um jeito diferente e vencer o rancor é mais difícil do que vencer a distância
e mesmo assim, mesmo em tempos de redes sociais, deixamos a distância crescer
cada vez mais entre nós.
Estar presente, no hoje, é muito mais
importante do que foi em qualquer época!
03/02/16
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