quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O vazio do hoje




O hoje está muito diferente, muito distante do ontem que vivi. No ontem as pessoas se cumprimentavam, as pessoas visitavam-se entre si e compartilhavam vida entre si. Também dividiam feridas abertas e costuravam as mazelas que abriam.

Não, não quero apena culpar a atualidade, porém eu sinto seu peso e vejo pessoas que também o sentem.

Tirar o telefone do gancho e ligar para seu amigo onze horas da noite e ficarem uma hora conversando sobre as mesmas coisas que sempre conversaram. Aliás, nunca precisou mudar o assunto, não precisava tanta versatilidade intelectual. Bastava assistir algum filme alugado na locadora pra botar rodar no videocassete e lá vinham inúmeras teorias sobre Matrix...

Ou virar a noite jogando canastra, bebendo cerveja que não fosse cara, afinal, eu sempre estive em crise e isso não é de hoje. Nunca fui rico e nem pretendo. Rico materialmente falando. Acho que a pobreza... Não, não pobreza, humildade talvez, ou melhor, a simplicidade de ser, a vida longe das grandes cidades, acho que tudo isso nos fazia melhores. O pouco que tínhamos era o suficiente para tanto tempo!

Quando criança provava iogurte uma vez por mês e hoje vou ao supermercado e pouco me importo se está lá na prateleira ou não. Não, não é porque cresci, pois continuo sendo fanático por iogurte e os sabores só evoluíram!

Jogar bola ou andar de bicicleta sem rumo era o que havia, principalmente no verão, uma vez que praia não era nossa primeira opção. Na verdade praia era significado de festa e festa era algo que contávamos nos dedos! O que alegrava mesmo eram as festas juninas ou os bailes que íamos no centro de nossa diminuta cidade. Muitos daqueles que desfilavam com suas roupas caras hoje são pais e mães um tanto infelizes com o mundo de festas de seus filhos. Outros se adaptaram. Seria mais sincero dizer que a maioria se adaptou aos novos tempos e outros ainda são como eu, ouvindo as músicas antigas, por exemplo.

O hoje é uma panaceia de sentidos e sentimentos. Tudo misturado, perto e distante ao mesmo tempo. O prazer de caprichar na pose da fotografia não é mais o mesmo, porque naquela época levaria tempo até ser revelada e a torcida para ficar uma boa foto era grande! No hoje as pessoas viajam e o prazer maior parece ser fazer a fotografia para postar nas redes sociais. E quem consegue fugir disso que revele a primeira foto!

No hoje seus amigos estão no facebook, no whatsapp e ainda assim estão distantes de nós, uns dos outros. O incrível mundo virtual não é tão grandioso como pensamos, a não ser pelo fato de distanciar infinitamente as pessoas. Quem consegue manter seus amigos por dois, três ou quatro anos seguidos é um herói. Vejo meus alunos e alunas e como muitos ‘trocam’ suas amizades de tempos em tempos. Não deve ser amizade, na verdade. Eu continuo com meus amigos de infância, de adolescência, das "baladas" e agrego novos amigos. Obviamente alguns se vão e outros são apenas colegas que manterão contato regular por um tempo apenas.

Já dizia o comercial de banco nos anos 80, ‘o tempo passa, o tempo voa’, e no mundo corrido que temos, o tempo voa muito mais rápido.

Não deixe que trabalho e sonhos de acúmulo te distancie dos teus amigos e familiares.

Responda aos seus amigos as mensagens que eles te deixam e não carregue tanto rancor. Há pessoas boas e ruins e sempre haverá que os ame e cada um de nós jamais irá agradar a todos. Ser bom é algo difícil, ouvir calado, não julgar, tentar entender as razões alheias, são todas coisas complicadas, mas necessárias. Às vezes precisamos respirar fundo, suspirar profundamente e simplesmente aceitar. Outras vezes precisamos reagir, resistir e mesmo deixar o tempo agir sobre nossas faltas e as faltas dos outros. Inevitavelmente erraremos e mesmo sem querer causaremos mágoas.

Talvez o melhor de tudo seja desligar o computador, desconectar a internet, deixar o celular de lado e ir até o seu amigo, visitar a sua família e não apenas esperar pelo dia da despedida final, pois lá as lágrimas estarão nos acompanhando e elas devem ser leves. Lágrimas pesadas surgem de dois fatores: dos nossos erros e de nossa distância. Cada fator dói de um jeito diferente e vencer o rancor é mais difícil do que vencer a distância e mesmo assim, mesmo em tempos de redes sociais, deixamos a distância crescer cada vez mais entre nós.

Estar presente, no hoje, é muito mais importante do que foi em qualquer época!
03/02/16



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nenhum comentário:

Postar um comentário