sábado, 7 de maio de 2011

Dar a cara para bater




Dizia Victor Hugo que “vivem somente os que lutam”. Eis uma frase emblemática num país onde a “cordialidade” dita as regras. Mas, seria o povo brasileiro tão acomodado assim?
Quem estuda a história, e a nossa principalmente, sabe que todas as conquistas da humanidade foram resultado direto do embate pelo bem maior. O brasileiro, “gentil, porém aguerrido”, como diria meu professor de História do Brasil, Nivaldo Goulart, não é e nem foi diferente de outros povos. Na Roma antiga Espártaco, escravo e gladiador, liderou famosa revolta pela liberdade. Como resultado, foi crucificado. Mas isso não deve servir para nos amedrontar, pois, como disse Cecília Meirelles, “a liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que a explique e ninguém que não a entenda”. O próprio Rosseau disse que se há escravos por natureza é porque a força formou os primeiros e a covardia os perpetuou, logo, porque deveríamos continuar presos aos grilhões que nos sufocam? Até quando acreditaremos piamente nas sombras da caverna?
Hoje me deparo com uma situação delicada e ao mesmo tempo extrema. Nós professores enfrentamos batalhas diárias dentro e fora das salas de aulas. Alunos sem limites, pais sem tempo, diretores que, para defender seus cargos de confiança, esquecem-se que também são professores. Se não bastasse tudo isso, vivenciamos uma classe profissional que tem como símbolo a desunião. Nossas conquistas não são frutos da boa vontade política dos dirigentes da nação, pois àqueles interessa que o povos mantenha-se na ignorância política e intelectual. Afinal, caindo no lugar comum, conhecimento é poder. Decorre daí algo que muito enraivece: a posição contrária dos próprios educadores e diretores quanto à eleição do cargo administrativo das unidades escolares. Como eu, professor de História e Sociologia, posso ensinar aos meus alunos sobre democracia e cidadania se meus pares são contrários às eleições para direção? Há muita hipocrisia nem um pouco disfarçada em nossa educação.
Entretanto, esse não é o foco de meus argumentos nessas linhas. Foi preciso os ministros votarem o nosso piso salarial para que fosse aceito e, mesmo assim, o Estado de Santa Catarina nega-se a tal, motivo pelo qual minha classe profissional está se mobilizando numa investida por nosso direitos. E aí entra o grande problema: muitos educadores opõem-se a lutar pelo que é nosso por direito e isso me adoece. Enquanto alguns literalmente dão a cara a bater buscando o mínimo desejado à profissão, no caso salário mais condizente, grande parte se mostra alheia ao fato e, em muitos casos, desmerecendo aqueles colegas que decidiram paralisar as atividades durante um dia para lutar em favor de toda nossa classe.
Eu já perdi minha tristeza com meus colegas de vocação, começo a sentir raiva! Vê-los a discutir novelas e bigbrother na sala dos professores me enoja, simplesmente porque, ao puxar assunto referente a nossa luta, cabo sendo desdenhado. Enquanto continuar assim, não consigo imaginar um futuro promissor à educação. Infelizmente, o individualismo acumula vitórias diárias e corrobora cada vez mais para desarticular nosso movimento em prol de um futuro mais digno nas salas de aulas. O que prevalece entre os professores é a cultura do “eu”. Enquanto a cultura do “nós” permanecer relegada a segundo plano, as salas de aula continuarão a afastar os bons profissionais. Isso sem citar aquelas professoras que são excelentes donas de casa, ou aqueles professores que são excelentes vendedores. Criticar o sindicato? O sindicato somos nós, não os seus dirigentes! Como pode um professor ou professora criticar o sindicato se, em cada assembléia convocada da categoria, prefere ficar em casa limpando tudo ou ir cuidar de seus afazeres? A meu ver, esses ineptos não são merecedores das conquistas por aqueles que lutam pelas mesmas.
Convenhamos, como pode ser chamado de educador ou educadora alguém que tem nojo de seus educandos? Ou, como posso chamar de professor ou professora alguém que está em sala de aula mas jamais lê um livro sequer ou mesmo desistiu de estudar? Como diria Augusto Cury, é muito difícil lidar com um professor ou professora que desistiu de ser aluno.
Em meio a essa tarefa inglória, por vezes, desistir de lutar significa encerrar todas possibilidades vindouras de que dias melhores virão....      

Professor Wagner Fonseca, irritado..muito...06/05/11
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Um comentário:

  1. TEM UM SELO NO MEU BLOG PRA VC. VAI LÁ PEGAR.

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