sexta-feira, 15 de abril de 2016

La fiesta del 'impítima'!


 


E vai rolar a festa, dizem, da democracia, o que é difícil saber. Certo é que festa haverá. Embora saibamos que motivo não há. Afinal, porque comemorar a simples troca de peças no jogo que não permite o povo jogar, quiçá ganhar?

Suspiro...

Bem, a festa haverá, com toda certeza, faz parte do habitus brasileiro festejar sua própria tristeza, sua miserável desgraça. Ao fim, todos sabem, o tabuleiro continuará incólume e as peças continuarão a jogar. Engana-se, contudo, que o rei e a rainha mandam alguma coisa. Os verdadeiros mandantes articulam as peças, as regras, o tabuleiro e entre si decidem como funcionará o campeonato, sempre renovado.

 No fim de cada disputa uma festa maior e as peças já não conseguem mais enxergar com seus olhos de marionetes.

Suspiro... E festa haverá...

Bandeiras empunhadas, balões faceiros, patinhos fofinhos, folclóricos seres listrados e convicções à flor da pele. Haverá lágrimas nos cidadãos de bem e capas de revistas mirando o futuro da nação! Um otimismo comum brilhará nos corações mais ingênuos e suas prestações serão pagas com mais alívio. Afinal, o monstro maior foi afastado, agora lutaremos contra outros, dirão alguns editoriais bem intencionados...

Mudará o jogo, mudarão as regras e as peças, mas não mudarão os competidores, os donos das rédeas.

Alguns dirão: “Decepamos a cabeça da cobra!” É, porém, não se trata de uma pobre sucuri. A cobra é mais antiga e se apoia em mitos muito bem arquitetados para garantir um mundo que não seja transformado. É uma hidra que se enrosca por toda a sociedade e, no lugar da cabeça decepada, outras cabeças surgirão para nos amedrontar. Bem, o mais certo é tratar como um ninho de hidras e infinitas cabeças...

De toda forma, o mais certo é afirmar: a festa haverá. Pegue sua coxinha e sua coca, pegue mais outra e guarde no bolso e cuido seu bolso para não sujar. Envolva a coxinha no branco guardanapo, pois o bolos é lugar puro, jamais antro de sacrilégios lipidinosos!

De posse de seu estomago bem alimentado, pegue seu celular de última geração e faça aquela selfie que será recordada daqui um ano.

A festa haverá, essa é a certeza, só não sabemos em qual salão será.

A festa haverá, essa é a certeza, mesmo que não saibamos quem ficará bailando mais tempo.


Humm... É só imaginar: você não comanda o jogo, mas insiste em comemorar...
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terça-feira, 12 de abril de 2016

Ensinar artes nas escola? Para quê?



Ah, sim, poderia ser, mas não precisamos disso. O que precisamos são de pessoas que saibam mais somar, multiplicar e dividir, coisas assim. Melhor, não precisamos que saibam muito disso também, precisamos de pessoas bem adestradas, domesticadas e caladas, ou melhor, que saibam repetir apenas as verdades endeusadas.
Precisamos de pessoas que não se importem muito em ser
pisoteadas, logo vem outra eleição e um dinheirinho pelo votinho corriqueiro - que já não vale mais nada...
Ensinar arte? Para que isso? Há novela, Caldeirão, ratos e
faustos nos seus domingos televisivos, molecada cantando, bundas sacudindo, quem precisa de arte?
Precisamos de trabalhadores, de preferência vacinados - para
não dar gastos - e também vacinados contra os sindicatos, pois quem sabe de seus direitos são os "erreagás" dos seus patrões (sem ofensas, por favor) e temos a justiça do trabalho. Aliás, justiça é o que não falta neste país, é só olhar quantas leis para proteger quem nem precisaria se apenas os respeitássemos....
Ensinar arte nas escolas é tão inútil quanto ensinar
gramática, ou ensinar a ler e bem falar....
Ensinar artes nas escolas é tão inútil quanto ensinar
sociologia, afinal, para entender a sociedade é só assistir o jornal sagrado de todas as noites, ou do fim da tarde.
Pensar sobre a sociedade, que palhaçada, "cota pra
mim" que já ensino como funciona, no fio de uma navalha...
Ensinar artes na escola é tão inútil quanto ensinar
filosofia, que não serve para nada, afinal, no chão da fábrica você vai apertar botões e não teorias...
Sei não, acho perigoso ensinar artes, tanto quanto ensinar a
pensar, sobre o mundo, sobre si mesmo, sobre a sociedade.
Não queremos pessoas perigosas na sociedade, não queremos
pessoas que reflitam sobre a realidade.
Senhores engravatados, nos façam o favor, esqueçam as
escolas e o livre pensar pelo bem do seu próprio bem e o bem da própria sociedade...
Ui! Que medo doido de pensar!!!!

Wagner Fonseca, 12 de abril de 2016, 11:44 
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domingo, 10 de abril de 2016

Nem todo o Amor do mundo




Nem todo o Amor do mundo

Relembro uma crônica de um jornal que versava sobre duas coisas aparentemente diversas: o amor e as leis. Chamou-me a atenção de tal forma que sempre a cito em minhas aulas quando discutimos leis e direitos, por exemplo.

A cronista em questão alertava-nos sobre o excesso de leis (lembram de Utopia, de Thomas More?), algo parecido com aquela fala que diz: “Quanto mais leis, mais ignorante o povo...” É, eu sei que pode soar forte, mas não se pode desmerecer seu fundo de verdade. A questão é, será mesmo que precisamos de uma lei que proteja as mulheres de nós homens? Não precisamos de um mundo ideal para respondermos afirmativamente. O que me causa intensa revolta é  ver/ouvir coisas do tipo: “Se a roupa estiver arrumada/passada e a comida quentinha na mesa, não apanha!” Penso eu, seria essa a ‘revolta’ de machões que eram obrigados por suas mães a arrumarem suas camas? Aliás, quando ouço alguém dizer que lugar de mulher é na cozinha, ou que mulher deveria se preservar (homem se preserva?), ou que a mulher não submissa merece apanhar se preciso for, eu questiono: “Você bateria em sua mãe? Desejas por acaso tanto mal assim à tua mãe também?” Há um hiato de silêncio...

Interessante também a opinião que ouvi em sala de aula sobre idosos. Alguns jovens simplesmente os classificam como vadios, preguiçosos, estorvos e por aí vai a lista de reclamações (reclamar não é coisa de ‘velho’?). Questionam sua preferência em filas de bancos, nos ônibus e sua “rabugência”. A essas alunas e alunos eu perguntei como tratavam seus avós e lhes deixo aqui que sua imaginação os incite às respostas.

Lutar por salários melhores? Só se for pelo meu, os outros não podem fazer greve, afinal, o motorista do ônibus fica sentado o dia inteiro e o professor só sabe ficar lá na frente falando coisas que não entendo e nunca vou usar na vida, pois já tenho um emprego que não exige muito da minha inteligência...

Ajudar o próximo? Já o coloco em minhas orações...
Piedade? Não me faz crescer na vida.
Dividir? Vai trabalhar vagabundo!

E assim caminha a humanidade, um universo de umbigos enterrados em si mesmos, por isso o excesso de leis: como não conseguimos conviver, comungar nossa própria existência entre os nossos e com o Meio Ambiente, elaboramos uma miríade de limitações à sociedade para nossa própria convivência individual. Hobbes nos alertava sobre a ‘animalidade’ que impõe o ser humano a guerrear entre si ‘naturalmente’. O estabelecimento da sociedade, do Estado e das leis seria a melhor forma para garantir a sobrevivência humana.

Pode parecer estranho eu falar de amor aqui, porém, falo do amor como Humberto Maturana o entende, um sentimento agregador, compartilhador, diferente daquele sentimento que dá à competitividade o status de mola propulsora da evolução humana. A competitividade tem na vitória o seu objetivo final e a conquista da vitória impõe o sentimento de inferioridade da derrota ao outro como um outro menor, incapaz, mesmo que repitamos o mantra sagrado: “O importante é competir, não ganhar!” Inevitavelmente um ganhador será o destaque do primeiro lugar.  

Vivendo uma cultura competitiva até suas últimas instâncias, não é nada novo constatar nossa falta de amor. Precisamos desentender-nos muito para conseguir alguma reflexão e, apaixonados como somos, tornamos qualquer coisa item obrigatório de discussão. Não basta contentar-se com a mudança da opinião alheia para o nosso lado, exigimos que a mudança mostre-se publicamente para que sejamos reconhecidos em nossa vitória. A dificuldade, talvez, esteja em nossa capacidade de compreender o outro como um outro com sentimentos, história particular. Não quero aqui eximir ninguém da responsabilidade por seus atos, pelo contrário. Nossas leis têm sua validade legitimada na medida em que sustentam nossa sobrevivência, enquanto espécie, embora pouco nos importemos com as outras espécies, animais e vegetais...

É verdade, contudo, que seja muito difícil amar ao próximo como se não houvesse amanhã, porque o amanhã não é apenas um lugar, é um mar de possibilidades. É mais ainda, um oceano de resultados do hoje.

O discurso da intolerância aqui não se encaixa também, pois tolerar é fácil, exige pouco de cada um de nós, exige inclusive balançar a cabeça ou silenciar-se perante o nosso ‘diferente’. Por outro lado, o respeito, ou a alteridade, nos pede conhecimento profundo, reconhecimento de nós, do eu e do outro, responsabilidade consciente do existir alheio. Como dito anteriormente, precisamos de leis para proteger mulheres, crianças e idosos, homossexuais, plantas e animais, nossos rios e lagoas? Infelizmente – ou felizmente, como saber? – para nossa vida em sociedade, para o nosso próprio bem, nossa legislação ainda nos protege. Para o bem e para o mal...

Retornando à crônica que deu origem a esta reflexão, falta-nos Amor, sobram leis, questionadas, defendidas, burladas, repelidas. Se nós respeitássemos nossas mulheres e idosos, por exemplo, não necessitaríamos dos estatutos que os protegem. Falta muito ainda para evoluirmos...

Enquanto o irascível sentimento de destruição alheia povoar nossa razão e coração, continuaremos a destituição de nossa humanidade. Nem todo o Amor do mundo poderá nos salvar enquanto empunharmos as armas que nos distanciam.


08 de abril de 2016
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domingo, 3 de abril de 2016

Eu prefiro as rosas com seus espinhos



Se você fala mal do PT, é coxinha, é reaça, é fascista, é burguês, é direita...
Se você fala mal do PSDB, é petralha, é comunista, é vagabundo sustentado pelo bolsa-família, é esquerda...
Se você critica a direita é um esquerdopata (como se isso fosse doença), é responsabilizado pelos males do país;
Se você critica a esquerda é um direitopata (como se isso fosse doença), é responsabilizado pelos males do país.
Se apoia as cotas, te desejam um bom retorno à África, pois jamais deverias ter saído de lá (como se tivesse saído por vontade própria)
Se és da esquerda e defendes uma visão de algum político da direita és vilipendiado pelos seus da esquerda, te chamam de patriarcalista, revisionista safado, impostor, comunista de aluguel, filhote da ditadura, censor disfarçado, reaça enrustido...
Se és da direita e defendes uma visão de algum político da esquerda és vilipendiado pelos seus da direita, te chamam de assistencialista, populista, lulista, petista enrustido, liberal de meia tigela, “sai do armário”, te gritam....
Se criticas o cristianismo, és um comunista, marxista do inferno, razão do mal no mundo, pagão, pecador, hipócrita, filho do capeta, homem sem alma;
Se criticas o ateísmo, és um machista, hipócrita, ignorante, acéfalo, descerebrado, cego incapaz, doente mental;
Se defendes a família, és homofóbico;
Se defendes o homossexualismo, és contra a família, destruidor de lares...
Se defendes as mulheres, te pedem para vestir saias (embora os que te criticam não vivam sem elas...)
Se não defendes as mulheres o fazes por ser incapaz, és só mais um machista...
Se te mandam pesquisar na história o fazes do teu jeito, procurando a história e seus "pedaços" que melhor te agradam;
Se és irônico, não te entendem, se falas sério, não te compreendem, se brincas, te maltratam...
Se és tu mesmo, não és boa pessoa

Defendes o Lula? Burro!
Defendes a Dilma? Burro!
Defendes o Aécio? Burro!
Defendes o Sarney? Burro!
Defendes o Moro? Burro!
Defendes a Marina? Burro!
Defendes o Bolsonaro? Burro!
Defendes o muro? Burro!
Defendes ninguém? Burro!
Defendes a todos? Burro!

Independente disso tudo, todos só querem o bem, não é mesmo? A pergunta sempre será: queremos o bem de todos, porém, somente das pessoas de bem?
Agora reflita: as pessoas de bem são tão boas quanto eu, você ou cada um de nós?

Nunca se leu tanto em nossa história, ao passo que nunca se compreendeu tão pouco. Nunca na história desse país (se me permitem uma paráfrase...rsrsrs) e do mundo tivemos tanta informação pululando por aí, ao mesmo tempo nunca conhecemos tão pouco. Repetimos as coisas (sim, EU já fiz isso, SEM pensar muito...errar faz parte, aprender é uma arte – difícil...) sem questionar suas consequências, mesmo quando já sabemos suas origens.

Reflexão se tornou algo obsoleto num mundo de frases prontas onde os mesmos de sempre continuam pensando e modelando o mundo para a maioria.

Estamos mutilando pessoas antes de refletirmos sobre suas ideias. Estamos criando um mundo tenebroso onde o diferente não terá seu espaço de existir.

A cada dia cresce o anseio por ordem num mundo caótico gerado pela nossa ganância, pelos sentimentos vis de toda uma população adestrada para o mal e sua banalidade inconsequente. Uma população instrumentalizada pelo culto ao próprio umbigo que pretende chegar ao paraíso despreocupando-se diretamente com o que há de mais importante, o próprio semelhante que reflete em si os erros e acertos de cada um, sendo cada um, por pior ou melhor que seja, tão importante quanto qualquer outro.

Eu tenho medo do futuro imediato, conforme as opções postas. Adentrei no mundo virtual em 2005 e de lá para cá só tenho confirmado premissas que me amedrontavam há oito ou sete anos atrás. Toda uma geração cresceu nesse meio e o ódio já começa a cravar suas marcas em mim, coisa que quero repudiar!

“Tempos difíceis esses”, coisa que já é repetida há bastante tempo e se torna cada vez mais comum...

Difícil estabelecer uma conversa sadia com as pessoas, eu prefiro minhas rosas e seus espinhos, com sua beleza e seu cuidado...


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