segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O orgulho de ser professor ACT


O orgulho de ser professor ACT

O ano era 2009, um ano ruim para mim, mas consegui vence-lo a duras penas. Mas naquele ano algo bom aconteceu. Estava sentado em frente ao computador vi o comercial da Plataforma Freire. Fiquei atônito com a possibilidade de poder fazer outra faculdade de graça. No meu caso, ou seria filosofia ou sociologia, disciplinas que mexem comigo!

E lá estava eu fazendo a inscrição e já observando o grande problema: as aulas seriam ministradas nas sextas-feiras, vespertino e noturno; e nos sábados, matutino e vespertino. Um trem muito puxado, como dizem. Depois de dois anos tendo aulas aos sábados na pós-graduação, novamente aulas aos sábados... Mas eu encarei. E em novembro de 2009 iniciamos nossa turma com 50 pessoas! Aquilo era o máximo, poder finalmente estudar algo que sempre quis e já lecionava: sociologia. A falta de professores habilitados em todo o país fez o governo criar o projeto, totalmente grátis, não poderia perder a chance. Porém, no início os problemas se avolumaram. Lecionar 40 horas semanais e ainda estudar mais 20 horas é coisa só para “professor novo, forte, não para quem já tem anos de sala de aula”. Isso era o que diziam meus colegas e minhas colegas de profissão. Para mim quem já desistiu de estudar poderia também desistir da sala de aula. Professor bom é aquele que sempre se renova e não fica parado no tempo com a mesma “metodologia” ultrapassada.

Bem, eis a primeira parte de meu pensar, que está um tanto bagunçado devido aos últimos eventos. 

Tenho vários colegas e amigos ACT’s, todos na mesma condição que eu ou ainda pior. Ser humilhado por professores mais antigos é algo normal, como já pude constatar com vários deles. Comigo nunca aconteceu, diretamente, mas indiretamente já ocorreu várias vezes. Quando um colega ou uma colega ACT é humilhado por algum professor efetivo ou diretora, é a mim que se dirige a ofensa também. Quando decidi ser professor o fiz também por saber que não trabalharia aos sábados, sempre soube que poderia trabalhar de segunda de manhã até sexta a noite. Isso nunca me incomodou, pelo contrário. E hoje, minha situação é bem mais complicada, como podem perceber. Continuo lecionando as 40 horas semanais e estudando mais 20 horas, sendo o domingo, o “dia da família”, reservado para corrigir provas, trabalhos, preparar aulas, estudar, ler, planejar. Descanso não faz parte. Alguns diriam que isso é DESUMANO, o que é uma barbárie. Meus alunos, infelizmente, vivem em situação que colega algum de profissão vive, mas muitos desses colegas não conseguem enxergar isso devido a sua soberba (nem gosto dessa palavra). Não descem de seus altares. 

Eu não fiz juramento algum quando me formei, entretanto, assumi um compromisso muito grande quando escolhi essa profissão, um compromisso com o futuro, o mesmo de meus alunos. Por isso me apavoro, me assusto e às vezes até me deprimo: porque me preocupo com o nosso futuro. Esse é mais um motivo para eu não parar de estudar e continuar lutando por mim, por eles e por meus colegas professores! Lutar... Ta difícil isso daí...

Dois meses de greve e os professores ACT’s levando o movimento na garra, na coragem, no peito, encarando tudo que poderia vir! Naquele momento nós fomos indispensáveis, contudo, e agora? Vi professores e professoras pegando seus atestados médicos, nós mal podemos faltar um mísero dia. Converso com meus companheiros ACT’s e ouço deles a mesma indignação: enquanto sofremos calados, os efetivos pegam licença para tratamento de saúde. Dizem que é desumano trabalhar nas condições em que trabalham. Muitos simplesmente se jogaram nas cordas, mais do que antes da greve, ma ficaram dois meses curtindo os dias frios de pijama. Nós adoecemos, pegamos frio, chuva, fizemos bico porque o nosso nunca é garantido. Estudar mais? Fazer outra faculdade? Mestrado? Para que? Ficar na educação? Só se for louco! É o que dizem. Típico discurso de derrotados. Hipócritas! É assim que defendo-me das ofensas que vejo! 

As pessoas não entendem que a vida não é algo fácil, estamos aqui para lutar, para crescer, não para nos conformar. Em alguns momentos, eu sei, precisamos voltar para nossa concha, rever nosso conceitos, é o que estou fazendo. Mas abandonar a minha profissão porque perdi uma guerra?! Não sou tão derrotado assim! E hoje, mais do que nunca, começo a pensar na famosa avaliação dos professores. A temível avaliação dos professores. Sabem porque muitos temem? Porque pararam no tempo, simples assim. A falta de compromisso de nossos educadores é que estraga nossa educação. Não me importam se ficam discutindo novelas na sala dos professores, isso não me afeta mais. Não me importam se ficam defendendo o Jabor, o Prates, ou se o assunto mais importante é o Domingão do Faustão. Nada disso mais me incomoda. Tenho que me concentrar no que é mais importante. 

Sou professor há oito anos e em todo esse tempo só faltei ao trabalho por motivo de doença, e isso é algo raro. Faltar não faz parte de mim, muito menos pagar alguém para me substituir. Aliás, essa prática deveria ser revista de perto. Faltar por qualquer coisa é algo desumano que o professor faz com o aluno. É, eu sei, não podemos defender o aluno, não podemos mesmo. Até porque ninguém nos defende, não é? Não é mesmo. Quando encontro meus alunos nos corredores da faculdade fica latente que temos muitos que nos defendem, pois sabem que fizemos um bom trabalho. Por outro lado, estou cansado de ficar defendendo meus colegas de profissão. A partir de hoje não faço mais isso. Quando algum aluno ou aluna vier reclamar para mim de algum professor ou professora devido a sua prática pedagógica não vou nem dar atenção. Que se entendam!

Estou triste, decepcionado e muito enraivecido com meus colegas de trabalho. Lembro de quando assinei meu contrato para trabalhar na Seara Alimentos, estava lá: fazer hora extra. Eu fiz durante muito tempo, mas a faculdade me tirou essa obrigação, muito cansaço. Minha esposa trabalha lá hoje, de segunda a sábado, conversamos pouco durante a semana e no domingo nosso passatempo juntos é, muitas vezes, limpar a casa. Desumano? Não. Mas muito errado. Assim como professores faltam com seu dever por qualquer motivo banal.

Respeito muito meus colegas e amigos professores e professoras efetivos e comprometidos como sucesso e futuro de nossos alunos. Aos outros, espero por vocês na próxima greve, porque eu quero estar lá, se possível. Espero que vocês também.

Professor Wagner Fonseca, de história e sociologia. Com sangue nos olhos, como diria o Ed....rsrsrsr.....05/09/11


  
                                                                                                                    
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nenhum comentário:

Postar um comentário