quarta-feira, 27 de julho de 2011

Uma parte de nada

Uma parte de mim é medo, me acorda ao anoitecer,
outra, é decepção,
escondida nas ruínas do passado
Há um meio termo de tristeza e revolta incontida
amargura derretida
por entre flores mortas no verão...

Uma parte de mim é sede,
a outra deserto
Há um um jardim encoberto no meio da bruma
e meio mundo de ingratidão
um ensejo nulo por destruição
e uma ninharia de luxúria

Uma parte de mim clama o fim
a outra, assim, reclama calada
Há sempre uma forma de viver além do ser
e descobrir que ter ou não
é apenas uma forma de manter
uma mente livre angustiada

Uma parte de mim grita alto
outra parte ousa a pedrada
uma parte de mim é apenas o resto
outra, é apenas o nada...

Wagner Fonseca, 27 de julho de 2011 Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Professores cansados...

Não é um bom título após " professores derrotados", mas é o que me veio a mente. Depois de dois meses de greve lutando pelo reconhecimento, ainda ficaram muitas dúvidas do que realmente ganhamos. Salário? 76 reais não é avanço para quem brigou por mil!

Voltamos as salas de aulas e não adianta ninguém vir me pedir ânimo, estou ainda recolhendo meus pedaços.
Tentei retornar e ser eu, voltar à matéria de onde parei e logo de cara constato uma triste realidade: nossos alunos não sabem nem o básico! Básico em história é saber pelo menos o porque de se "comemorar" alguns feriados. Não fico pasmo por não saberem, fico mais triste ainda.

Nossos alunos do segundo ano do Ensino Médio não sabem a data da chegada de Colombo à América, não sabem o ano e nem sabem que foi ele quem "descobriu" o "Novo Mundo". Admirado, sigo fazendo-lhes outras perguntas "cretinas" sobre alguns personagens, datas e acontecimentos. NADA! Não sabem ou não lembram ou apenas reclamam que algum professor ou professora não lhes ensinou. Pontos cardeais? Coordenadas geográficas? NADA! Internet em casa? Acesso? Eles tem. Sabem usar? A maioria não sabe nem baixar músicas ou filmes. Triste constatação.

Estou perdido, é sério. Provas? São anti-didáticas. Decoreba? Anti-didático. Avaliação? O mais abrangente possível? Repressão? Democracia de conhecimentos? Transformação da realidade? Não sei mais nada.
Sento em frente ao computador, pego os livros, as revistas, aulas prontas em powerpoint, não sei o que fazer.

Ritmo de trabalho: 40 aulas semanais.

Escola Um: 26 aulas de história, 13 turmas de Ensino Médio, conteúdo defasado, falta de xerox, falta de biblioteca, excelentes alunos e muitos sem disposição, alguns especialistas em rir o tempo todo, mascar chicletes, mexer em celular. Assunto principal? Qualquer coisa relativa única e exclusivamente a uma balada qualquer. Minoria? Aqueles preocupados em ter mais palavras no vocabulário, preocupados em rir com mais consistência e mais consciência da realidade, aqueles cujo futuro se torna meta a atingir.

Escola Dois: 14 aulas - História, Filosofia, Sociologia. Escola pequena, de interior, os mesmo problemas da escola maior, porém em menor escala, bem menor. Dificuldade: lecionar três disciplinas e não misturar tudo na mente de cada um.

Final de semana: 20 horas semanais de faculdade (minha segunda). Resultado: domingo não é o dia de descanso, não é mesmo.

Ano que vem não quero mais as 40 aulas, vou pegar apenas minhas 32, no máximo, e oferecer uma qualidade maior aos que realmente merecem: meus alunos! Resultado no salário: menos aulas, mais aperto em casa. Ou isso ou stress redobrado. E os projetos que sempre temos em mente? Continuarão em mente...

Conversei muito com meus alunos sobre as suas dificuldades e sobre as minhas. Me dói estar aqui escrevendo isso, mas é minha forma de expor minha raiva, indignação e revolta contra esse modelo falido de educação. Não sei o que pode ser melhor, mas do jeito que está não dá mais! A família precisa ser mais responsável, o Estado precisa ser mais responsável e os professores precisam ser mais comprometidos.
Diante disso, temos algo que é maior: a mídia, a globalização em seu lado nefasto, as inúmeras facilidades comodistas tecnológicas que, embora nos ofereçam conforto, nos retiram a essência do saber fazer.

Não quero que meus alunos apenas decorem, quero que entendam processos. Todavia, nenhum conhecimento é desnecessário. E conhecer implica em estudar: Ler bem leva a escrever bem, quem bem escreve, bem entende, bem pensa, bem duvida, bem critica e não aceita as coisas facilmente.

Compreensão e interpretação: um mal que aflige todos nós. Eu e você.

Wagner Fonseca, 26 de julho de 2011

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terça-feira, 5 de julho de 2011

Professores derrotados?



Ninguém mais agüenta ouvir desabafos sobre nossa greve, isso é fato. Mas eu cheguei num ponto crucial. Ou eu abaixo minha cabeça como muitos professores estão fazendo e volto derrotado para sala de aula, ou eu vou brigar com alguém, bater em árvore, chutar cachorro, sei lá!

Entramos numa greve forte e muito fortalecidos, fizemos história e infelizmente alguns começam a debandar, perderam as suas forças. E por que não vencemos essa guerra? Porque enquanto alguns lutavam pra valer, uma grande quantidade preferiu ficar em casa. Um dia antes de começar nossa greve um funcionário do Banco do Brasil me disse que nossa greve não ia dar em nada. O motivo: os professores não são unidos. Bem, nosso movimento o corrigiu, mas foi por um instante. E já não estamos mais unidos. Se voltarmos para as salas de aula agora, eu não quero nem conversa com meus colegas de profissão (colegas, não mais amigos) que desistiram de lutar. Contas a pagar? Quem não as tem? Trabalhei no concreto ontem, tenho que pagar o gás, e aí? Ai de quem me pedir para fazer algo pela escola!!! Peçam ao governo! Arrecadar dinheiro para manter a escola? Deixe ruir de vez! Quem sabe assim o dinheiro do FUNDEB vem!

Eu cansei de ouvir críticas dos alunos e pais. Já disse praticamente tudo que tinha que dizer sobre o que penso da educação e de nossa profissão. Mas as pessoas parecem cegas, ou decididamente burras! Pergunte por ai quantas pessoas assistiram ao jogo do Brasil domingo. Agora pergunte quantos alunos pegaram um livro para estudar durante a greve? Pergunte quantos pais se puseram pacientemente a tentar entender os motivos de estarmos parados.

E como podem dizer que há avanços? Eu não recebo meu salário de maneira correta desde o início do ano. Professor ACT com 40 aulas dadas e mais um triênio. Fiz o cálculo de quanto deveria receber, com regência de 25% e mais 8 aulas excedentes a 5% cada, totalizando 40%. Resultado: salário incorreto. Agora, pegando a tabela do governo, aquela que meu vencimento vai para R$ 1.380,00, o meu salário baixa! Perco 8% de regência e mais 28% de aulas excedentes. Então, se é para voltar desse greve, MELHOR LARGAR AS AULAS EXCEDENTES! E que bom se todos o fizessem, quem sabe assim, o governo contrata mais professores.

Entenderam agora? Vou voltar para a sala de aula com menos 36% do meu salário. Em agosto o governo diz que vai devolver mais 3% da regência e passará o percentual das aulas excedentes de 1,5% para 3,6%. E vai manter isso até dezembro, retornando em janeiro os percentuais que já tínhamos. Quer dizer, COM ESSA MANOBRA O GOVERNO RETIRA O QUE JÁ É NOSSO E AINDA ECONOMIZA MILHOES ATÉ DEZEMBRO! Só que em janeiro e fevereiro, eu e 50% dos professores catarinenses que são ACT’s estarão desempregados, retornando a receber pagamentos só em março ou abril! É por isso que fomos e estamos sendo enganados! E porque ainda tem professores achando que o melhor é retornar para a sala de aula agora?  

Se essa greve acabar amanhã, voltarei à escola com menos brilho no olhar. Fizemos greve pelo cumprimento de uma lei federal de 2008, negada por um governo irresponsável que perdeu na justiça a tentativa de negar a lei. Pela primeira vez no Brasil se criou um lei PELA VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR, mas ela nos é negada. Raimundo Colombo quis no vencer no cansaço, tirou nossos direitos históricos, desvirtuou o debate e venceu os mais fracos que agora se acovardam e abandonam os muitos que brigaram por todos.

Vamos perder essa guerra para o governo e a culpa é nossa. Daqueles que se acomodaram e não participaram do movimento, seja por medo, inconveniência ou incapacidade de pensar no próximo. Pessoas muitas vezes tão religiosas, mas sem capacidade de enxergar que o próximo está lá fora lutando por todos de maneira igual. Vamos perder porque muitos desistiram da educação, pois, se não tivessem desistido, estariam nas ruas brigando conosco. Perderemos essa guerra porque ainda há os que defendem os cargos de confiança. Se todos os diretores de escola tivessem a coragem de fechar as escolas e vir conosco nessa luta, ela seria muito rápida. Porém, preferiram defender seus cargos a acreditar na força do professor.

Poderei voltar derrotado para a sala de aula. Meu orgulho catarinense foi muito ferido. Principalmente porque sei que grande parte dos meus colegas de profissão são os responsáveis diretos pela eleição de Luiz Henrique, Paulo Bauer e Raimundo Colombo. Saibam vocês também que se responsabilizam por detonarem de vez a educação catarinense.

Eu posso levar tempo para “desinchar minha cabeça”, como dizem, mas quando eu conseguir me reanimar vou lembrar dos 14 mil em Florianópolis, do calor humano, dos amigos que fiz nessa greve e das lágrimas que muitos de nós derramamos devido a raiva que sentimos desse governo cruel.

Aos meus amigos professores que lutaram por uma educação melhor, eu os aplaudo e me orgulho de tê-los conhecidos nessa greve. Aos que pensaram apenas nos seus bolsos, meu repúdio. Aos que lutaram, parabéns. Aos que se acomodaram, saibam que a educação é resultado direto de seus atos.

Vou lembrar uma discussão com o Rodson, quando ele disse que a maioria estava na greve preocupada mais com seu bolso do que com a educação em si. Infelizmente tive que concordar com ele diversas vezes ao ouvir a fala de alguns. Adoeci por causa disso. Mas devo-lhe dizer, amigo Rodson, que a utopia ainda vive em mim! E muitos de meus amigos de profissão estão lutando por uma educação de qualidade e preocupados menos com seus bolsos do que com o futuro que almejam!

Aos meus alunos peço sua compreensão caso o meu sorriso seja amarelo no retorno. Muitos de vocês nos deram força e a coragem necessária para lutar. Alguns, uma pena, preferiram “trollar” com nossa cara e nossa situação. Todavia, crescemos ouvindo as críticas. E não vai ser um “governinho mixuruca” que vai me fazer desistir do futuro que estamos preparando em conjunto!

Entrei numa greve com esperança, saio desmotivado, mas vivo. Entrei com um salário, e retorno com menos. Para os cegos, é uma vitória. Quem sabe nós possamos tirar algum aprendizado disso tudo. Quem sabe a meritocracia seja mesmo a solução, quem sabe não. O que me dói mais é saber o quão difícil vai ser trabalhar em sala de aula temas como política, poder, democracia, cidadania e movimentos sociais. Terei força para acreditar novamente?

Professor Wagner Fonseca, 05 de julho de 2011     
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