Revolucionar a educação, tarefa dantesca. Grande por si
só e pelos frutos que pode render. Mas a educação no Brasil não foi e não é
levada a sério. Lugar-comum esta ideia, porém não defasada. Povo educado também
é sinônimo de povo disciplinado, podendo ser manipulado, controlado, respeitoso
e também emancipado.
Um povo educado pode ser um povo crítico, que não aceita
as mazelas perpetradas pela corrupção política. Também não aceita os mandos e
desmandos de uma política econômica que visa os patrões e esquece-se dos trabalhadores.
Povo educado, povo menos alienado? De que educação
falamos realmente? Aquela proposta por Paulo Freire, uma educação libertadora,
cidadã? Ou tão somente almejamos uma educação profissional, técnica,
automatizada, não autônoma?
Que povo educado realmente desejamos? Um povo que saiba
desligar mais a televisão e ler mais livros? E que livros esperamos que esse
povo educado leia? Talvez educamos um povo apenas para a competitividade do
mundo capitalista, para a exacerbação do individualismo. Porém, não conseguimos
educar um povo para a individualidade e a alteridade.
Educamos para a autoria ou para a reprodução de
relações sociais predatórias? Educamos para a convivência passiva, nulificada
de grandes sonhos, ou educamos para uma cidadania ativa? Como a mídia consegue
falar em revolucionar a educação se a mesma veicula banalidades, futilidades,
machismo, sexismo, consumismo como se fossem coisas absolutamente normais? Infelizmente,
a programação televisiva corrobora mais e mais negativamente com os processos
educacionais. Culpar os pais pela sua permissividade? Vamos matizar mais ainda
os pais que são também frutos dessa educação ineficaz e da própria publicidade exploratória
de pobres mentes mal letradas? Seria mais fácil cada parte envolvida admitir
sua culpa.
E cá vamos nós culparmos outra vez o sistema. O sistema
educacional, político, econômico, o capitalismo, religião, cultura. Não é
apenas a educação que vai mal. A escola a acompanha. E a escola não dá lucro
aos governos, pensam nossos governantes. E, no entanto, gastam rios de dinheiro
em políticas paternalistas e assistencialistas, pois essas refletem-se em
votos. Aliás, gasta-se mais com presídios e publicidade governamental do que
com escolas. A partir daí já percebemos que não dá, simplesmente, de
revolucionar a educação.
Culpar os professores? Outra vez caímos num debate
antigo, infinito. Na academia muitos mestres não ousam descer de seus altares
de arrogância. Aos acadêmicos resta-lhes repetir tal prática infeliz com seus
alunos em sala de aula. Para podermos ganhar um salário condizente com nossa
posição nos submetemos à cargas horárias que extinguem nossos horários de
folgas: domingos e feriados não são para descanso, são para trabalho. Só isso
já justifica o mau-humor dos professores em sala. Às vezes, sessenta
horas-aula, oitocentos alunos e o acumulo de desrespeito, indisciplina, descrédito
e cobrança. Some aí o risco da má interpretação e o perigo dos alunos o
tratarem como vendedor: o cliente tem sempre razão! E, se já não bastasse a
falta de professores explicita, expulsa-se aqueles que os alunos não gostam. Eis
um ponto a se pensar.
Professores são seres humanos, portanto, passíveis de
erro. Profissionais desacreditados, algo incondizente com sua posição. Aos alunos,
todos os direitos, inclusive aprová-los mesmo quando se sabe que nem o básico
aprenderam. Por isso os índices como IDEB e outros evoluíram tanto. Quanta falácia!
Aos professores deveres, deveres e mais deveres. E aumentam os atestados
médicos (uma grande parte nem os merece!).
Como revolucionar a educação num país onde sucessos
musicais são destituídos de profundidade? Como podemos oferecer respostas à
educação em meio a tantas modas fúteis? Nem quero entrar nessas questões, me
causam náuseas!
Será que podemos revolucionar a educação mostrando o
estado calamitoso de nossas escolas nas redes sociais? Me pergunto como uma
aluna pôde obter êxito nisso. Em 2011 nós professores denunciamos a degradação
da escola pública catarinense durante dois meses, até mais e qual foi o
resultado? Algum positivo? Talvez. E aí, novamente, vemos a importância dada
aos alunos: se um professor ou professora fotografa sua escola e denuncia os
problemas estruturais ou outros quaisquer, além de represálias pode ficar
desempregado. Outro ponto chave: a tecnologia chegou até as mãos dos alunos,
mas nós a proibimos. Celulares, smartphones, proibidos! No outro lado,
defasados tecnologicamente estão os professores, e, ainda assim, é erro
acreditar que a sala de aula informatizada pode revolucionar a educação. Só poderá
se professores e alunos souberem, o que não ocorre em muitos casos. E mesmo
assim, uma sala de aula pode ser muito aprazível sem possuir “nenhuma”
tecnologia. Depende muito da formação, ousadia e criatividade do professor ou
professora.
Revolucionar a educação é uma tarefa social. Como dizem
por aí, devemos fazer um pacto pelo futuro, começando pela educação. Todavia, é
preciso sempre relembrar que educação não é apenas aquela feita na escola. Família,
trabalho, igreja, meios de comunicação, em todos estes lugares temos as
relações sociais e é nelas que nascem muitos subsídios para se fazer a
Educação.
A educação precisa de respostas? A sociedade inteira
precisa...
Outubro de 2012, texto feito na emotividade do momento
e não concluído...
Professor Wagner Fonseca

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