Quando falo em educação gosto de separar um pouco as
coisas: a educação está em todo lugar, não só na escola. Lá nas salas de aulas
temos a educação escolar, uma parte do que consideramos educação. Nem vou me
estender nisso, embora minha preocupação seja justamente sobre a educação
escolar.
Recebi hoje pelas redes sociais um “print” de uma mensagem cuja autoria já
deve ter se perdido nos meandros da web. A postagem em questão toca num assunto
sério: a imensa quantidade de atividades que alunas e alunos têm recebido
semanalmente em casa. Os professores devem estar loucos enviando tantas
atividades assim! É só fazer a conta: 12 atividades por semana, quatro semanas
e teremos 48 atividades em um mês! Que me desculpem os entusiastas, mas nem em
nossa “normalidade” escolar isso ocorre. Então nossos alunos e nossas alunas
vêm até nós reclamar sobre tudo isso:
_ Professor, terminei as atividades ontem e agora já
tem tudo de novo!
Está difícil, muito além do que nós professores
trabalhamos em sala de aula. Está difícil para nós e para nossos alunos. Um
aluno chegou a me implorar para fazermos uma aula “clandestina” numa praça,
alguns alunos apenas, de máscaras e distanciamento. Confesso que cogitei a
cena, mas o peso da cobrança sobre mim é maior. O pior de tudo é que mal me
recordo do aluno, pois tivemos poucas aulas no início do ano! Como podemos
“ensinar” algo assim? Me cortou o coração ouvir dele as dificuldades em
aprender, querer mas não conseguir sozinho...
Em nossas conversas nas redes sociais trocamos nossas
angústias e dificuldades. O meu celular quebrou, mas tenho computador em casa.
Tenho alunos de 16 anos de idade que utilizam os celulares dos pais. Também
tenho alunos com celulares de dois ou três mil reais mas que não conseguem
pagar um plano de internet. Prioridades: ostentar vale mais que poder utilizar
o aparelho em sua plenitude. Na verdade, se formos elencar os problemas, o rol
iria longe e, na boa, quem sou eu para julgar cada um? O problema dos nossos
problemas é que são nossos, não dos outros, e mesmo que fossem, seria muita
maldade não se preocupar também.
Nós professores somos obrigados a dar conta de nossas
atividades. Inventar coisas sabe lá Deus de onde sobre conteúdos ainda não
discutidos não é fácil para ninguém. Apontar culpados também não soluciona
nossos problemas, mas o fato é que estamos adoecendo, professores, pais, mães e
alunos e alunas. Apaguei mais de 100 mensagens no whatsapp na semana passada,
arquivei-as antes de apagá-las. Dois dias depois meu celular morreu e agora já
tenho dificuldades em contatar os educandos.
A palavra mais séria nesse momento é, sem sombra de
dúvida, resiliência. Precisamos, cada um de nós, nesse momento ter força,
coragem, fé e esperança, o que for preciso para aguentar essa tempestade. Do
contrário todos afundaremos juntos. Não está fácil vencer o peso da imensa
burocracia que se abateu sobre nossa profissão, contudo, ainda a temos. Nem
professores, nem alunos, nem famílias estão mais suportando tamanha pressão.
Entretanto, é preciso seguirmos firmes, vencer nossas angústias e desesperos e
tomar muito cuidado com toda ansiedade que vier. E, quando tudo isso passar –
porque vai passar – que possamos repensar nossos papéis, escola e famílias,
pais, mães, filhos e professores.
