sábado, 10 de janeiro de 2009

Monumento enfadonho de demasiada incoerência


Numa tarde comum, dessas quartas-feiras onde o sol fica meio preguiçoso e as nuvens se espalham sem pressa. Quando a culpa por não ter em que pensar se torna motivo para não fazer coisa alguma. Acho que é nesse momento que aparece o desânimo. Puxa vida, quanto desânimo! Acho que estou acobertado pelo pó. Preciso me limpar e de um bom revigoramento de meu corpo.
Nesses momentos eu sempre olho pela janela e vejo nuvens desbotadas, parece algum tecido usado e muito sujo. Nem mesmo a grama me oferece o seu verde como deveria. Os sorrisos alheios me renovam, é verdade, mas são efêmeros. Felizmente essa efemeridade não é algo transparente, nem opaco. É algo vivo, não é algo vil. É algo colorido, brilhante. Mesmo assim, são efemeridades, os elementos constituintes de nossas vidas.
Vidas tão marcadas de coisas que vão e vem. Vidas que às vezes precisam se auto-afirmar a beira de um penhasco para ter a única certeza que se pode ter. Aquela aura de benevolência individualista e tão esquecida. Eu não sei ao certo o porquê dessas palavras...
Ao fundo toca uma música esquisita, deprimente, mas cheia de alegria pretérita. Como num sonho psicodélico do passado. Crianças brincando de roda e subindo em árvores. No pequeno copo a dose certa do álcool necessário para preencher este momento. Mas não há combinação nesse momento. É calor, não é ideal para a aguardente. Mas teimosamente eu a sorvo como consolo unitário de angústia esquecida e pintada com borrões de preto e cinza.
Eu gostaria muito de ter agora uma rima alegre que pudesse cantar sem compromisso algum, mesmo que parecesse uma mentira passageira. Na verdade, eu não entendo porque a inspiração teima em aparecer somente nos momentos mais amarelados da vida. Não aqueles momentos de amarelo-ouro, radiante com o sol. Mas sim como o amarelo de um sábado pela manhã carregado com ressaca e toda a maldita ânsia de vômito.
Por fim, começo a me entender. Penso até que eu sempre me entendi, mas não conseguia compreender o cerne de minhas questões. Compreender tudo o que penso sobre meus pensamentos, sobre meus atos, meus sentimentos. Esses sentimentos doidos que afloram em nossos corações sem mais nem menos....Como podem vir do nada? Como pode esse nada ser tão cheio de coisas??? Como pode o nada nos completar até o infinito?
Sentimentos. Amor... amor é doação...final de um ciclo. É como a transição das estações, meio inverno, meio primavera... e assim vai. Às vezes frio demais, às vezes calor demais, sempre nos momentos mais inoportunos. Não sei o porquê nos dedicamos tanto aos outros e esquecemos de nós mesmos. Seria incoerência de nossa parte, nos esquecer. Como se esquece a si mesmo? É demasiado incoerente fazer isso a si mesmo, sem sombra de dúvida.
A tarde está chata, o verão tende a perder o brilho sobre mim. Uma pena, pois isso me lembra e muito os dias de adolescência sem ter o que fazer, aonde ir...
O abismo está ali, próximo, um monumento enfadonho de demasiada incoerência. Um sopro e já era, o fundo se aproxima mais. Vou ficar por aqui...
09/12/2008
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