sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ao som da noite



Badalam os sinos da catedral e sinto mais uma vez meu corpo estremecer. A Morte caçoa de mim, me mostra seus lábios descarnados revelando velhos dentes e uma gargalhada histérica. Eu apenas encolho meu corpo dentro de mim. Hoje bebi tudo que pude, mas nada me preencheu.
Meia noite, tocam os sinos outra vez. A Morte espreita ao meu redor. Sua foice reflete minha face a procura do medo que não lhe proporciono. Ela ri, mas tem raiva. Longe, muito longe alguém ouve uma balada qualquer que versa sobre uma dor qualquer. Sinto uma paz sufocante e encaro a Morte já impaciente. Vejo tristeza e ódio em seus ossos. Ela já não ri. Senta-se ao meu lado para ouvir a noite.
Ao longe, bem longe, observamos a cidade adormecida sob a névoa da madrugada e alguém ouve aquela música com tanta dor.
Já são quase seis horas da manhã. Há uma luta no horizonte entre o dia que quer surgir e a noite que não quer se despedir. Apenas ouvimos um estampido fraco, debilmente distante e os latidos efêmeros de um cão qualquer. A música continua, e lá embaixo na cidade envolta em névoa, vemos uma lâmpada clarear uma janela numa residência, numa rua, numa desilusão...
A Morte põe suas falanges em meu ombro e nada diz, apenas nos olhamos. Não precisam nascer palavras para sabermos que alguém a chamou. Ela apenas deve ir...
Wagner Fonseca – 03/06/07
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