segunda-feira, 14 de agosto de 2017

AGENDAS VAZIAS



Confesso: agendas vazias me provocam, me atraem, me seduzem. Não consigo passar incólume ao volume insaciável de linhas em branco implorando pelo contato libidinoso da caneta.

É uma oração, um louvor à orgia das letras em ebulição no calor de palavras que brotam espontaneamente de rabiscos de pensamentos absortos e sem nexo na maioria das vezes.

Posso vê-las rodopiando em meus olhos e oferecendo-se voluptuosamente ao abraço da inspiração. Às vezes nego-lhes pedidos, às vezes procuro-as e não as encontro. Mesmo que queira escapar-lhe, é meu dever agraciar tantas linhas com o meu propósito, ainda que sejam débeis suspiros ou ousadas filosofias!

Agendas em branco, agendas de anos pretéritos. Datas já vividas, já esquecidas, já virtualizadas no esmaecer desse século que já deixou de ser novo e repete velhos erros de séculos há muito historicizados. Também essa agenda passará pelo crivo indiferente do tempo, da memória, da virtualização de tudo e, tudo se tornando, nada será.

Agendas, cadernos. Suas espirais me envolvem e me abraçam. Suas capas duramente pensadas e prensadas são o convite perfeito a trilhar suas linhas em branco em qualquer lugar, em qualquer terreno, sentado, deitado, debruçado, estropiado, inspirado ou desligado.

Como espelhos mimetizando a alma enclausurada no corpo, vertem em sangue literário nas linhas dóceis das agendas. Seu vazio infinito é o adubo para outro infinito, o da imaginação!

E assim como ela vem, ela vai. “Easy come, easy go”.

Boa noite inspiração!

Boa noite nova velha agenda de 2012! 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nenhum comentário:

Postar um comentário