Uns poucos minutos
nas redes sociais e o enjoo vem fácil. A internet é uma grande provedora de
“relativismos” frios, algumas vezes desconexos e também agressivamente
abusivos. Quando não contraditórios. Para cada acusação de um lado qualquer há
outra prova em contrário do lado acusado. Observem atentamente cada “debate”
proporcionado na rede. Sempre há quem tenha outras informações que contradizem
aquilo que antes foi dito e aí começam as brigas corriqueiras.
Poder expressar
nossos pontos de vista é uma conquista democrática, herança iluminista da
Revolução Francesa (ah, sem esquecer o fundo liberal do Iluminismo, antes que
eu seja acusado de ser só mais um esquerdista! Bah!). Bem, é graças ao direito
de expressão democrático que eu posso me considerar alguém de esquerda. Isso
não me impede de ter amigos de direita. Muito menos sou impedido de ter amigos
que sequer sabem as diferenças (e semelhanças) de ambos e também nada me impede
de ter outros amigos que vêm tentando superar essa dualidade. Uma baita
desafio.
Por outro lado,
voltemos às nossas redes sociais e os seus “profícuos relativismos”. Tente
argumentar em alguma postagem sobre política ou religião. Não, caros amigos,
não existe isso de que política, futebol e religião não se discutem. A única
coisa que não discutimos é aquilo que não entendemos, não conhecemos, por isso
só ouvimos, para aprender. Por outro lado, ainda, na internet ou no dia a dia
mesmo, discussão virou sinônimo de disputa e quem disputa quer vencer.
Discussão, por outro lado também (por favor, perdoem-me a repetição), não
precisa ser vencida, precisa apenas ser discutida, no intuito de que pontos de
vista divergentes possam, ao menos, serem ouvidos entre si.
Empatia, alteridade,
se coloque no lugar do outro antes de julgá-lo. Não é um exercício fácil. A
internet, já sabemos, não é um território sem leis, há regras explícitas e
outras que vêm da boa educação de casa. Aí veremos novos problemas e soluções
parecerem apenas conceitos abstratos.
Eu proponho uma
experiência bem “simples”: crie um perfil fake
contrário às suas ideias. Por exemplo, seja de direita quando for de esquerda e
vice-versa. Tente expor “suas convicções” publicamente. Pode ser doloroso, mas
qualquer pessoa bem intencionada, educada e com um mínimo de discernimento, não
tem necessidade de tal artifício. Basta observar o fanatismo psicótico que se
espalha.
Na democracia que
vivemos você ainda pode optar ser de esquerda ou de direita e isso pode dizer
muito ou pouco sobre você no final. Entretanto, quando você vê o erro, a falha,
o pecado, a imoralidade apenas em um lado da situação, você está caminhando
rumo à uma visão totalitária (muitas vezes fundamentalista!). Num passeio
rápido pela web podemos perceber política e religião mesclando-se num perigoso
monstro de ódio contra tudo o que for contrário à visão de quem aponta o dedo.
Se eu sou da esquerda
e enxergo o erro apenas na direita, já expresso aí minha miopia em relação ao
mundo. Se sou da direita e creio que o mundo será melhor se eliminarmos a
esquerda, então sou totalitário, antidemocrático e isso nós vemos nos dois
lados. Contudo, eu preciso também demonstrar o lugar de onde olho para o mundo.
Penso que pode ser possível um dia em que superemos essa dualidade política,
porém, não tenho tantas esperanças assim. Me incomoda e assusta o quanto as
pessoas ao meu redor não se preocupam mais com suas máscaras. Inocência e
ingenuidade de um iludido poeta, pois agora as pessoas vociferam tudo aquilo
que sempre pensaram sobre os outros e assim os tratam: não são seus próximos,
são apenas outros e, como outros, devem ser excluídos ou eliminados.
Fobia social e
reduzido círculo de amigos já despontam como horizonte mais palpável a cada
dia. Que a banalidade do mal não converta os livres pensadores nos próximos
“outros” a serem eliminados, embora já saibamos estar ali classificados.
03 de janeiro de 2019
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