quinta-feira, 2 de julho de 2009

Monólogo monocromático de cores diluídas



Meus sonhos desvaneceram sob as ruínas amargas da decepção. Eu tive lágrimas, mas elas se fossilizaram. Dentro de mim, a chama da mudança apagou-se. Eu olho para o mundo e vejo apenas embalagens vazias e me questiono: será que são meus olhos que estão apagados? Meus sonhos que morreram ou eu que os abandonei? Talvez meus espelhos apenas estejam sujos por puro relaxamento.
Eu gostaria de acreditar na força dos meus sonhos, mas como eu posso fazer isso se não confio na sua realização?! A sociedade é suja, eu sei, e é dessa sociedade que nascem os nossos sonhos. Logo, nossos sonhos também são sujos.
Eu estou cansado desses sonhos materialistas. Também estou cansado de tanto idealismo moribundo e utopias distantes. Minha liberdade restringe meu egoísmo, minha ambição, a minha oportunidade de me inserir nessa demagogia hipócrita do nosso mundo. Eu poderia ser igual a esses milhares de livros de duas capas, mas prefiro não misturar as histórias. Não é fácil para mim aceitar essa suposta igualdade, essa igualdade tragicômica de anseios pútridos, acéfalos. Eu vivo essa dicotomia maldita constantemente. Mas prefiro ter meus princípios objetivos e à flor da pele, sempre me relembrando que a melhor noite de sono é aquela de consciência limpa. Por pensar assim, meus sonhos feneceram em desalento. Se eu pudesse chorar, talvez eu expurgasse esse amálgama de imensidão vazia.


Às vezes eu me permito sorrir, não por falsidade, mas por tentativa de encontrar uma ilha em meio a esse mar revolto. Eu deixo as ondas me abraçarem, sua força benfazeja me alivia dos desencantos.
Uns me dizem para eu procurar meu próprio túnel e lá encontrar a luz, a pequenina e frágil esperança que pode me manter na ativa. Mas meus olhos fecham-se à noite e me entrego ao sono como forma de fugir. Os pensamentos surgem do nada e com força suficiente para me macular. Durante algumas horas eu deixo de existir plenamente e entrego meu inconsciente ao onírico. Num mundo onde eu não sou mais eu, num mundo que se oferece como realidade, eu encontro um pouco mais de vivacidade. Esse suposto mundo colorido preenche o vazio com o abstrato de desejos impossíveis. Pela manha eu retorno ao mundo de sempre e relembro que minha adolescência não me permitiu amadurecer. Acabei apodrecendo antes do meu amadurecimento. Tombei ao chão como semente, cresci como árvore torta e casca grossa. Não produzo frutos, apenas sementes; não produzo flores, apenas sombra.
No fundo, eu preciso apenas concentrar a força dos sorrisos alheios que me oferecem as suas alegrias. Não preciso da falsidade, mas preciso aprender a converter sua amplitude. Meus espelhos precisam ser limpos e minhas gavetas arejadas. Eu preciso de mim.
Wagner Fonseca – 20 de junho de 2009
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Um comentário:

  1. "Mas prefiro ter meus princípios objetivos e à flor da pele, sempre me relembrando que a melhor noite de sono é aquela de consciência limpa."

    Parece que no ritmo que vai o mundo, não temos mais o direito de pensar coletivamente, ter princípios, se quisermos o sucesso. Isto também me incomoda e mata aos poucos.

    Belíssimo texto!

    ;D

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