sábado, 28 de março de 2015

Vamos às ruas?





Em 2013, por volta do mês de maio, discutia com alguns amigos pelo facebook o meu medo que crescia em relação à direção que nossa sociedade estava tomando. À época ainda participava ativamente de uma comunidade no extinto orkut onde debatíamos coisas análogas. Em menos de 15 dias vimos as inúmeras manifestações públicas varrerem o país e a mídia criminalizando cada manifestação genuína.

O tempo passou, veio a copa e veio a vaia...

Passou mais um tempo e vieram as eleições e o resultado e toda a agitação política. Amizades foram postas em pé de guerra em nome da política, um grave erro. O ser humano é um animal político, como já dizia Aristóteles há séculos, o que nos leva a entender que cada um de nós atua politicamente em sociedade. Isto se dá pelo fato de mantermos relações sociais e de poder constantemente. Neste exato momento escrevo este texto justamente pelo poder que tenho: viver numa sociedade que é livre para pensar. Ainda...

No ano de 2013 as manifestações passaram de violentas para democráticas em questão de instantes na mídia. Todos os arruaceiros foram culpados e o povo pôde finalmente sair às ruas pedindo tudo e quase nada ao mesmo tempo. Lembro-me de ler na revista veja que o padrão dos manifestantes era de classe média média, tendendo levemente à alta e baixa. Ao conversar com um amigo, ex-aluno, que participou de uma grande manifestação em Criciúma, o mesmo me contava a decepção que sentia em estar lá: “Meus colegas de trabalho não quiseram vir. Disseram que não era lugar para trabalhador...” Conversamos muito sobre e questionei quantos como ele havia visto por lá. Outra decepção. Assim são as coisas, assim é a sociedade. E não posso generalizar por um único evento.

O que me deixava interessado pelas manifestações da época eram justamente as falas: “Não é um movimento político!”. Como não? E como proibir a participação de partidos políticos? Estratégia interessante, afinal se dizia naquele momento: “Ei, partidos políticos, não confiamos em vocês! Não venham levantar suas bandeiras neste espaço do povo!” Passado tudo isso, nos vemos nas eleições de 2014 e muitos daqueles contrários à participação política dos partidos nos movimentos sociais do ano anterior depositaram suas esperanças e frustrações em milhares de representantes de partidos políticos nas urnas. Seria uma contradição? Podemos pensar sobre. O fato é que, passado as eleições, as amizades continuaram a serem desfeitas durante outubro e novembro do ano em questão. Comentários ácidos nas redes diziam: “faço parte dos tanto por cento de brasileiros com orgulho...”, ou algo parecido. Resumindo, segundo os eleitores de Dilma Roussef, 49% dos eleitores são elitistas e estão desgostosos com as políticas sociais implantadas na Era Lula em prol do povo mais carente. Logo, eram pessoas ruins (vou usar este termo na falta de outro). Por outro lado, vários dos 49% diziam palavras parecidas: “51% dos brasileiros é burro, analfabeto, preguiçoso e acha que o Brasil vai bem”. Devo ter errado, mas li coisas assim. Estes 49% ainda estendiam sua raiva (seria isso?) a outra porcentagem, eleitores que votaram nulo, em branco ou os que se absteram. Esses, segundo aqueles, são os mais perniciosos, aqueles que poderiam ter decidido, mas não quiseram participar, os covardes (como li em alguns ‘insultos’, na falta de palavra melhor).

Mastiguei cada coisa que li na época, cheguei a pensar em excluir pessoas da minha lista de contatos, mas não o fiz. Vivemos numa democracia liberal representativa, a qual me permite pensar como penso e falar como falo. Permite-me um pouco mais de liberdade, liberdade esta que jamais existirá num regime autocrático, num regime absolutista ou numa ditadura militar (ou outra ditadura, seja de esquerda ou de direita). Decidi não comentar e apenas viver. Porém, 2013 não morreu, ele continuou até 2015.

Hoje ainda vemos pessoas, algumas esclarecidas, e isso é importante, pois cada um de nós que possui um mínimo de discernimento sabe exatamente onde nossos atos podem nos levar. Nem de longe desejo um regime político que poderá cercear minha liberdade ou de meus compatriotas, sejam eles defensores das mesmas ideologias que movem minha vida ou não! Todavia, não posso também me calar ante as atrocidades sociais orientadas pela falta de conhecimento da história, da política ou do próprio pensar humano. É este mesmo motivo que me leva muitas vezes a refletir sobre cada erro que sai de minha boca ou de meus atos. Refletir e se desculpar quando for preciso. Refletir e discutir quando for preciso. Refletir e agir quando for preciso. Contudo, nada disso muda o fato de que nossa vida em coletividade é tão ou mais importante que qualquer mera opinião forjada no calor das emoções (estas mesmas que afetam meu pensar neste instante).


Se tenho certeza de meus atos? Claro que sim, os repenso a cada instante. Sei que a mudança começa em mim e sei também que não devo esperar por mim só apenas. Pois sou passível de erro, de falha, de dúvidas. Por isso volto meus olhos à HISTÓRIA sempre e sempre. Os erros do passado estão sempre batendo em nossas caras. Enquanto forem eles, ainda haverá esperança. Quando forem cassetetes, bem, será que teremos tempo de encontrar os erros para aprender?

15 de março de 2015
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