Quando criança costumava assistir desenhos animados
como qualquer um e muito aprendia sobre a história dos Estados Unidos ou até
mesmo mundial. Da mesma forma hoje inúmeros jovens aprendem sobre cultura
oriental com seus animes japoneses. Mas e a nossa história, do nosso município,
do nosso Estado e do nosso país? Onde está essa história?
Pernalonga, Popeye, Pica-Pau exibiam vários episódios
onde veneravam a luta contra os nazistas, a epopeia dos pais fundadores da
pátria ou a luta pela independência da nação yankee. E nós, cá colonizados pelos portugueses, continuamos nossa
colonização cultural pela esmagadora “aventura” do Tio Sam no mundo moderno dominando a tudo e todos. Bem, isso não acontece
apenas conosco. O filme “Quem quer ser
milionário” ilustra bem esse cenário de colonização midiática: um jovem que
sabia mais sobre o mundo euro-yankee
do que seu próprio país, a Índia, de uma história e cultura tão rica quanto
longeva.
Um amigo esteve na Alemanha em 2016 por período de
quarenta e cinco dias e no retorno me contou, admirado, como a cultura de lá é
extremamente influenciada pelos EUA! Lojas, shoppings, filmes e músicas, em
tudo estava estampado o american way of
life ditando regras a tudo e todos. Cabe lembrar que ele esteve a trabalho
e pouco tempo teve para curtir a cultura germânica local da cidade onde estava,
próxima a Hamburgo.
E nós, bravos brasileiros, como estamos? Quem de nós
se importa com nossa história? Confesso: na escola eu odiava história do
Brasil. Não, não odiava, só achava chata pra caramba, mas curtia muito a
história mundial. Eu via no mundo o que me faltava aqui. Mal sabia eu que, na
verdade, pouco nos falta aqui, ou melhor, nos falta é estudar.
Já que falei dos desenhos animados no início, por que
não lembrar do cinema? Hollywood transforma qualquer pequena história em
magnífico blockbuster e talvez seja
justamente isso que falte para nós: uma grande produção “ficciosa” para contar
aquilo que não achamos atraente em nossa própria epopeia, uma forma de mostrar
o que está nos livros de uma maneira mais, digamos, “legal”...
Muito comum vermos as pessoas reclamando de nosso
cinema e só isso já caberia outra discussão. Entretanto, quero trazer aqui um
exemplo que se encaixa perfeitamente bem para esse momento. Trata-se do filme “Narradores de Javé” (meu filme preferido
do cinema nacional). A película narra de forma engraçada a desgraça de um
povoado que será apagado do mapa pela construção de uma barragem. O deus
progresso estampado em nossa bandeira não liga para meros mortais, mesmo que
eles tentem escrever a “história grande” do seu humilde povoado. Tal história
nada mais é que o registro histórico de sua existência que, pelos meandros
burocráticos da nossa sociedade, tenderá a ficar empoeirado n’algum pequeno
museu esquecido de alguma pequena cidade onde pessoas pequenas (?) sequer
lembrarão de sua existência. Se você ainda não assistiu esse filme, lhe garanto
umas boas risadas e também uma bela reflexão sobre nossa história.
Somos ainda hoje esse povo que é solapado pelo avanço
do progresso, principalmente daquele que vem de fora e entra pelos poros de
nossa pele, invade nossa imaginação e dita os modos que ela deve operar. Se vê
isso nos anglicanismos tão presentes nos nomes de nossos filhos, que ficam tão
belos em outra língua ou com tantos “pês agás”, “eles” ou “enes” e “emes”
duplicados.
Um povo que não valoriza sua história pouco se importa
em entender que cultura é a sua, se é que percebe essa mesma cultura.
Lugar-comum do vitimismo barato e complexo de vira-latas que tanto rotulamos em
nós mesmos. Um dia, quem sabe, estaremos lá, estampados atrás de uma vitrina em
algum museu bonito de verdade, museu histórico de verdade, entre ossos de
dinossauros e peças de arte de verdade. Lá, no meio de tanta verdade, tremulará
uma bandeira de um país habitado por bárbaros que foi apagado da história pelo
rolo compressor do deus-progresso.
Queria ser mais otimista, mas a dificuldade do momento
não me deixa seguir adiante. Melhor enrolar-me numa bandeira verde e amarela de
1,99 e sonhar com meu futuro ou passado de algum berço esplêndido.
