sexta-feira, 7 de maio de 2010

Monólogo senil contra a moda vazia

O que percebo é uma falta de limites nos nossos primeiros anos do ensino médio, não diferente dos outros anos, em muitos casos. Falta de responsabilidade com antes não se via (ou talvez se omitia...). Claro, não podemos ser deterministas, mas minha geração cresceu nas ruas, pulando valos de esgoto a céu aberto, trabalhando em olarias, largando estudo ou sofrendo para trabalhar e estudar. E ninguém morreu por causa disso. Falo por mim, e por alguns outros também, nossos direitos andavam alinhavados com nossos deveres. Ainda lembro de quantas vezes aos onze anos de idade eu dizia que minha vida era uma festa... Estudar era ótimo, não apenas por causa da escola, do estudo em si porque sabíamos que era importante (foi o que sempre nos disseram), mas porque quebrava um pouco o ritmo, víamos outros colegas, aprendíamos coisas novas e brincávamos muito no recreio que parecia sempre ter mais do que meros quinze minutos. Eu cresci brincando nas ruas, entre primos, amigos, colegas em longas tardes. Meu filho não tem e nem terá isso, o que me entristece. Em minha infância o medo maior era dos ciganos que “comiam” as criancinhas, os “tarados” eram poucos e não tão assustadores como hoje...

Visão turvada pelos ditames da mídia, perpetuada pelos embabacantes “reality shows”. Show de realidades ou hipocrisia nefasta? Entrar em sala de aula nos primeiros meses do ano é um infortúnio. O comentário mais “inteligente” é versado sobre qualquer último paredão. Nos veículos de comunicação o que vemos é apenas a alienação massiva imposta e bem recebida pelas pobres mentes há muito classificadas pelo senso comum como o futuro da nação. Na tevê vejo pessoas que criticam a falta de compromisso dos nossos jovens, mas não os vejo criticar o instrumento responsável por essa alienação. Senão, vejamos alguns casos:

- Luis Carlos Prates, colunista do Diário Catarinense e comentarista do Jornal do Almoço em Santa Catarina. É louvável seu apreço a leitura e a falta que essa atividade faz aos jovens, no entanto, nunca o vejo tecer qualquer palavra ao bigbundasbrasil. Nunca o vejo criticar a imbecilidade das telenovelas. Critica a imbecilidade das pessoas, mas não critica a imbecilidade propagada pela sua emissora;

- Arnaldo Jabor. Tive poucas oportunidades de vê-lo na tevê (até porque quase não assisto mesmo), e já que serve a mesma emissora do jornalista citado acima, pouco tenho a acrescentar. Já li alguns artigos seus na mídia impressa e pude constatar a sua qualidade. Porém, de que adianta criticar a incapacidade eleitoral do povão e continuar a servir a tão amada rede globo que tanto bestializa nosso povo?

- Miriam Leitão, comentarista econômica do Bom Dia Brasil. Gostava de ouvir seus comentários limpos e bem educados. Até mesmo quando dirigia suas palavras ácidas à esquerda o fazia de maneira inteligente sem recorrer a sectarismo. Bom, nem sempre.

- Alexandre Garcia. Seu suposto humor politicamente correto me preocupa. Além de ser um bom profissional na área, percebemos seu alto grau de intelectualidade, o que o eleva enquanto exemplo aos seus telespectadores. Todavia, ao ironizar o governo Lula, como fazem muitos jornalistas, também está legitimando a imbecilidade de seus eleitores. E esses o aplaudem. (nem eu sou fã do Lula, nunca votei nele);

- Diogo Mainardi. Conheço-o o suficiente para não querer conhecê-lo além. Pode não se achar, mas o cara é arrogante hein. Suas palavras o entregam. Num de seus artigos na revista Veja (eu não vejo... só quando há alguma coisa imparcial na revista...) compara a música popular com a pobreza. Porém, os países ricos não possuem também a sua música popular? Isso os destitui de seu valor? Até hoje não encontrei nada seu que valesse a pena ler.

Bom, mas porque falar desses profissionais? O que eles tem a ver com a imbecilidade reinante em nossos jovens? Eles tem tudo a ver, a começar pelo fato de estarem servindo a tão amada mídia televisiva, exceto o Mainardi, que serve a mídia impressa. E nossos jovens perdem tempo com telejornais? Não, pois os consideram “perca de tempo”. Entretanto, como já dito antes, são esses comentaristas que criticam a desconsciência do nosso povo e, por consequência, nossos jovens. Volto a falar, criticam a gente comum que dá ibope a sua emissora que não é criticada por eles.

Prates costuma criticar as mães que criam suas filhas para serem modelos. Porque não critica um programa como o Caldeirão do Huck que exibe ostensivamente os estereótipos de beleza feminina, geralmente semi-nuas? Critica a violência familiar, mas não critica o fato da tevê propagar e propagandear a violência nua a e crua dos filmes e desenhos animados. Critica a banalização do corpo feminino, do sexo, da família, da infância, contudo, o corpo feminino é banalizado em programas da globo, ou as beldades que desfilam no superpop da “Lu” Gimenez, nos programas da Record, no pânico na tevê (até gostava da crítica deles), ou quando o Sbt transforma uma pessoa feia em bonita... assim como o sexo, o linguajar escroto (quando ouvi numa novela das nove em 2005 a palavra merda?! De que adianta ensinar e cobrar de meus alunos quando eles veem isso na teve como algo natural?); e ainda a infância bestializada nos programas infantis. Gostaria de ouvir o Prates criticar a emissora a que serve.

Essas palavras servem aos outros comentaristas citados. Os ignorantes que vocês criticam são os mesmos que elegem os ignorantes que nos governam e também são os mesmo que dão ibope as emissoras que propagam a ignorância reinante nesse país.

Mas a televisão como sabemos, não transmite apenas coisas ruins, embora eu a evite ao máximo por outro vício, a internet. Nossos comentaristas também não falam só baboseiras (uso textos do Prates em minhas aulas, por exemplo), mas continuam a servir os ditames de uma elite que se contenta com a ignorância alheia. Logo, enquanto continuarem a defender ‘tacitamente’ aos senhores que servem, de pouco adiantará as palavras que nos dirigem. E esses senhores. Como afirmei acima, contentam-se com nossa ignorância. Nossa não! Quero me excluir dessa incapacidade de questionar e procurar pelo diferente.

Infelizmente, nossos jovens são subordinados e bombardeados pela banalização do mundo imposta pela mídia. Basta aparecer um novo grupo musical “cantando” qualquer babaquice com uma mulher bonita (segundo os padrões oferecidos) para que os jovens sigam cantando. Um hit do momento versa sobre pedalar usando minissaia e “tapar” a calcinha. Meu filho de seis anos chega da escola cantando aquilo que ouve por lá: “rebolation”, outro hit muito bem elaborado e aclamado do momento (ironic mode on_rsrs_ até eu aderindo aos vícios da rede virtual...). Me chamem de velho, entretanto, ainda lembro do tempo que os discos de vinil traziam a inscrição “Disco é cultura’ impressa na contracapa. Os meus possuem. Talvez seja isso, a bestialização imposta pela indústria cultural que transformou músicos e artistas em produtos a serem consumidos, mastigados e defecados. A volatilidade dos produtos culturais hoje é característica marcante dessa juventude efêmera, lhes faltam raízes, suportes. Muitos nem sequer tem algum dvd, copiado que seja, ou cd em casa, pois seus celulares já acomodam as músicas que lhes convém, até a próxima moda musical. Quando em sala de aula lhes ofereço uma música diferente ( e diga-se de passagem, sou bem eclético), ou quando lhes trago algum filme que foge aos padrões hollywoodianos, sou atacado com desdém ou profundo interesse pela visão do diferente a que não estão acostumados (então há esperança ainda).

Minha vida também sofre a influência disso tudo. Graças a internet hoje tenho acesso a um mundo infinito de informação. Os blogs me oferecem as bandas e músicos que farão parte do meu “media player” nos próximos três ou quatro meses, quando outras se juntarão, jamais substituindo, sempre somando e aumentando meu repertório musical a cada dia mais eclético. Mesmo assim, me pergunto, quantas músicas em formato mp3 tenho arquivadas ainda não ouvi e talvez nunca ouvirei? Baixar da internet já deixou de ser pirataria, virou banalidade e não servem nem pra passar o tempo. Sempre volto aos meus cd’s e lp’s, mais reais e menos virtuais. Ou vemos a inscrição “mp3 é cultura”? E é cultura sim! Mais interessante a comunidade do orkut: “Contra burguês, baixe mp3”. Eis o compartilhamento da cultura e informação tão apregoado pelas mentes libertárias! Não, não sou a favor da pirataria, pois não pretendo ganhar dinheiro fácil a custa do trabalho dos outros. Ainda penso como os antigos, dinheiro bom é dinheiro suado. Sorry, excusa, etc...

Talvez eu esteja perdido no tempo, mas sei que tudo isso incomoda muitos “velhos” como eu. E olho para meus alunos e me desespero quando passo o filtro porque alguns parecem simplesmente hipnotizados. Vejo alunas que defendem com unhas e dentes um cantorzinho qualquer chamado Luan Santana. Não questionam lirismo ou qualidade musical, apenas evocam um rostinho bonito. Ouvi uma aluna com uma imagem de um participante do bigbosta na mão dizendo que “aquele sim que era um homem de verdade”. Moreno, alto, saradão, e muito distante da realidade dela. Perguntei-lhe quantos homens do tipo ela conhecia pessoalmente. Nenhum, me disse ela. Nunca carecemos tanto de herois como exemplos.

Sei que alguns me criticam. Dizem que não podem ser todos iguais, que é preciso haver ignorantes para cantar, para serem artistas, ignorantes na televisão e tal, porque isso diverte o povo. Afinal, já pensou se todos questionassem o mundo em que vivemos, as músicas que tocam nas rádios, na tevê? Iria ser todo mundo chato, não é? Sei não, é o que dizem por aí. Também gosto de me divertir, e uma vez eu até dancei funk. Peço desculpas para os meus, (rsrsrs), mas estava sob efeito do álcool. Aí, tudo o que eu disse acima vai por água abaixo.

É sério, nunca carecemos tanto de herois como exemplos...

Prof. Wagner Fonseca, abril de /2010

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

2 comentários:

  1. e viva a diversidade... legal a sua camisa do Iron heim... vimos q vc ainda n segui o nosso blog, passa lá e dá uma olhada, se gostar siga e avise no comentário q retribuiremos

    http://mikaelmoraes.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. bem legal o texto heim. o/ blog show


    http://tabernadoviking2.blogspot.com

    ResponderExcluir