terça-feira, 20 de setembro de 2011

O estresse da sala de aula... o estresse dos professores...



Pois bem, li hoje no facebook da Amanda Gurgel sobre os problemas da greve de Minas Gerais, a greve dos professores. Já ultrapassa os 100 dias... “Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”... Me leva a pensar qual o meu lugar no mundo. Poxa, pessoal, mais de 100 dias de greve do magistério mineiro! Professores nas ruas, praças, manifestos! O que estão fazendo com nosso país? Que porcaria de governo é esse que não ouve os professores???!!!

Acabei de suspirar profundamente e me acomodar no banco. Infelizmente meu computador tem se tornado meu amigo mais fiel, responsável por toda assimilação de minhas dúvidas cruéis. E no blog expresso tudo que sinto. Esse mundo virtual só nos distancia do mundo real. Esse comodismo tecnológico todo só nos transforma cada vez mais em zumbis e nem percebemos. E nossos jovens e crianças, principalmente, meus alunos, e suas famílias tão desestruturadas que desestruturam nossas escolas.

O que falar de nós professores que já não tenha sido dito? Qual a nova reclamação que veremos dos professores? Que culpa tem meus colegas e minhas colegas de profissão? Se as salas de aula transformaram-se no inferno que constantemente ouvimos ser descrito, o que podemos fazer? Por acaso fiz quatro de faculdade e mais dois de especialização para lecionar para pobres crianças diabólicas? Céus! É assim que nos referimos aos nossos alunos! E com tanta propriedade! E o que fazemos para mudar tudo isso? Por mais que tentemos nada muda! Plantamos sementes, mas nos desesperamos porque as jogamos em meio ao lixo e não na terra fofa! E é muito difícil observar as flores brotarem em meio a podridão!


Por Zeus, estou a desqualificar a todos hoje... Estou muito triste, enraivecido, desmotivado... Voltei de 62 dias de greve ferido, indignado, sem forças, preparado para bater de frente com todos meus colegas que não estiveram presentes, porém, ao invés disso eu recebi sorrisos. Os sorrisos de pessoas que lutaram uma semana menos, 10 dias a menos, não importa. Sorrisos de pessoas que nem lutaram, que só acompanharam. Sorrisos daqueles que somente se acomodaram porque não precisam disso ou do mísero salário de professor. Nada disso importa. O que realmente importa é o que nós fazemos, cada um, a sua pequena parte! Porque, mesmo não passando de uma reles partícula de nada nesse mesmo universo, é a nós que todo esse universo se curva para poder se admirar com toda nossa capacidade!

Capacidade de viver as mais improváveis anomalias que qualquer ser humano pode vivenciar! Crianças que sobrevivem à escola pública brasileira, que sobrevivem às ruas brasileiras! Sobrevivemos ao baixo nível das produções televisivas, sobrevivemos ao baixo teor das modas musicais. Nossas crianças esbofeteadas por seus pais, estimuladas ao sexo pela televisão, pela música veiculada pela mídia, estupradas por seus parentes e familiares, estimuladas desde cedo ao consumo das drogas e martírio diário de todo seu potencial jogado na latrina!


Assistimos ao descaso dos órgãos públicos com nosso futuro, pois ao negar os direitos fundamentais das crianças negam-nos a possibilidade de sonhar com dias melhores! E por tudo isso ofendem a nossa existência, os nossos sonhos! E pior ainda: inculcam em nós misérias comodistas tecnológicas e conformistas como sonhos que somos obrigados a desejar! E desejamos ser apenas a platéia iludida de um espetáculo aproveitado apenas por aqueles que podem comprar tudo aquilo que os olhos veem!

E tudo isso desaba sobre a nossa educação, nossas tão sucateadas escolas públicas! E o desprezo com a pobreza se torna algo tão banal que é ate comum ouvir o pobre falar mal do pobre. E como ferem as palavras. E como eu machuco aos que me rodeiam com palavras. Porque temos sempre que deixar as palavras nos ditar nossas atitudes? E porque não fazemos de nossas atitudes o instrumento para o pensar e para acomodar nossas palavras? Queremos um mundo melhor e o que fazemos? Imitamos e louvamos o mundo que aí está! Defendemos valores apodrecidos de tanto serem mal usados e nem sequer nos damos conta que o mundo mudou. O mundo mudou? E nós? O que somos hoje? Que mundo queremos? O mundo defendido por nossas vestes, atos e palavras? Queremos um futuro mais saudável, queremos que nossos alunos cumpram regras, e nos cumprimos? Queremos um futuro radiante e será que o conseguiremos “dando milho aos pombos”? Queremos ser exemplo ou só seguir o que já nos dizem para fazer?

Estamos estressados, nós professores. Todos nós, os que vão para a escola a pé, de bicicleta, ônibus ou carro. Todos estamos muito estressados, com medo, desmotivados, revoltados e atirando para todos os lados. Estamos ferindo nossos colegas, nossos alunos e a nós mesmos. Muitos reclamam que os alunos não estudam, não se esforçam, não lêem, contudo, são exatamente como os alunos. Que contradição!

Eu cansei, eu segurei muito tempo e hoje eu estourei. Eu busco sempre o melhor e nunca estou satisfeito com o resultado. Quando descobri a tal de síndrome de “burn out” me vi ali, em cada sintoma. Fui revendo meus conceitos e percebendo o meu papel no mundo, mas ainda sou uma mula teimosa. Eu fico triste, cheio de ódio e nunca contente. Altero momentos de profunda melancolia com saltos de euforia. Eu me preocupo com o presente de meus alunos porque o futuro deles também será o meu. E brinco dizendo-lhes que pelo menos um deles terá que ser psiquiatra, outro cardiologista e outro advogado para me ajudar quando me aposentar. E muito me entristece ouvir-lhes reclamar de meus colegas de profissão. É nesse momento que me questiono o quanto bom ou mau professor devo estar sendo. Quando reclamam de meus colegas eu tomo a dor alheia de meus colegas, mesmo que eles não saibam ou sintam isso. Eu sou assim.

Se criticam o Brasil, é a mim que criticam. Se criticam Santa Catarina, é a mim que criticam. Se criticam minha cidade, Forquilhinha, é mim que criticam. Falam das pessoas de meu bairro, falam de mim. Falam dos professores, por Hera!, é de mim que estão a falar! E se a crítica é dirigida ao povo, eu sou povo e me orgulho disso.

Não é um diploma que vai me garantir uma suposta superioridade perante aqueles que sofrem e sustentam esse país! E eu mesmo mereço essa crítica, pois o que ensino aos meus alunos é que devem lutar, sempre!

O que são os herois? Alguém já viu o Superhomem, Hulk, Goku ou Thor fugir de uma luta? Por isso são herois. Mas nós, nós encaramos os problemas, ou ficamos com nossa praça, o milho e os pombos? Por isso me faço essa autocrítica tão fundamental. E por isso também percebo que sou incompleto, incapaz e não merecedor de toda glória vindoura que qualquer um pode almejar. E mesmo assim, pequena partícula desesperada com um amanha que pode até não vir, o universo está aí, antes de nós e para muito e muito tempo depois.

Que Apolo me guie com os raios do carro do Sol. Sobreviver em sala de aula é puro heroísmo, para todos os professores. O pouco que fazemos ali pode ser melhorado, sim. Mas é o que fazemos e por isso merecemos respeito! Por isso merecemos brigar de vez em quando e até mesmo estourar. E por isso mesmo devemos nos recolher e rever nossos atos e palavras. Pedir desculpas aos colegas é bom começo. Como professores somos uma classe. Somos derrotados todos os dias e não desistimos. Então, isso é derrota? Se essa nossa insistência na sala de aula for derrota, o que seria a vitória? Estamos estressados sim, e sem limite algum. E já passou da hora da sociedade civil e do Estado entender que a educação é uma boa arma para combater fome, miséria e violência. Caso contrário, vamos todos viver “sossegadamente” trancafiados em lindos condomínios vigiados 24 horas por dia. Quem sabe poderemos dar milho aos pombos em paz...

Professor Wagner Fonseca, 20 de setembro de 2011...hoje acometido de algo ruim...não gosto de gritar nem de brigar com as pessoas... o que me alivia é uma calma música instrumental....


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5 comentários:

  1. Estou em Minas e para aumentar sua ira contra o mundo:
    O mesmo governo que nega o piso para os professores mineiros, abriu as pernas para uma greve de um dia dos trabalhadores das obras do mineirão, construiu uma sede administrativa orçada oficialmente em um bilhão de reais e para completar a maravilha, aumentou os próprios vencimentos.
    É mole?

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  2. ENTENDO O DRAMA WAGNER. É HORRÍVEL TER QUE PASSAR POR ISSO. MAS ISSO SÓ VAI ACABAR QUANDO FIZERMOS UMA GREVE GERAL NO PAÍS TODO, E NÃO CEDERMOS ÀS PRESSÕES DOS GOVERNOS.

    http://www.youtube.com/watch?v=y1GEd0KZoD0&feature=player_detailpage

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  3. Nobres leitores...rs...caros amigos...a educação é uma tarefa árdua e dá vontade de desistir...quer dizer, eu perdi essa vontade já, sério...

    Há tanto por fazer que não podemos pensar em desistir, de modo algum!!!!

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  4. Isso é revoltante mesmo! E depois se gabam que o Brasil é um dos países mais democráticos do mundo.... muitas vezes me pergunto para onde foi essa democracia toda já que o governo diversas vezes age sozinho sem se importar se a população concorda ou se importa. Agora os bancários começaram greve, vamos ver quanto tempo vai durar também.

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  5. Os bancários, os correios, professores e funcionários de universidades federais....e assim caminha a humanidade....

    Será que nossos governantes querem mesmo nos levar a bancarrota? Quem planta tempestade colhe furacões....

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